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Estudo encontra cocaína e medicamentos em mar no litoral de São Paulo

O estudo da USP revelou um total de 15 componentes químicos detectados em diferentes concentrações nas praias

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Praia Vermelha do Centro, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo (Créditos: depositphotos.com / gustavo_asciutti)
Praia Vermelha do Centro, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo (Créditos: depositphotos.com / gustavo_asciutti)

Pesquisas lideradas pela Universidade de São Paulo (USP) identificaram a presença de substâncias como cocaína, medicamentos e cafeína em amostras de água do mar no litoral norte de São Paulo.

O estudo revelou um total de 15 componentes químicos detectados em diferentes concentrações. A presença de benzoilecgonina, um derivado da cocaína, foi destacada, sugerindo uma contaminação significativa do ambiente marinho.

Além de resíduos da própria cocaína, o estudo também apontou a presença de vestígios de medicamentos e cafeína. Uma das principais teorias para explicar essa contaminação é a de que essas substâncias são transportadas para o oceano através dos sistemas de esgoto urbanos, provenientes especificamente da urina e fezes humanas. A presença de tais compostos, tanto em áreas costeiras como em regiões mais distantes da costa, indica uma alta concentração de químicos na água do mar.

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Como essas Substâncias Chegam ao Oceano?

Embora a pesquisa não determine de forma conclusiva a origem desses compostos, a hipótese mais aceita é a de que eles são carregados até o oceano pelos sistemas de esgoto que não conseguem filtrar completamente essas substâncias. Especialistas destacam que a incapacidade dos tratamentos de esgoto em eliminar esses compostos químicos se deve principalmente às características físico-químicas que impedem a sua completa diluição.

Os sistemas de tratamento de esgoto são geralmente projetados para remover resíduos sólidos e microrganismos, mas não para substâncias químicas complexas como drogas e medicamentos. Isso significa que as águas residuais contaminadas podem acabar no mar, impactando o ecossistema marinho e potencialmente afetando espécies animais que habitam essas áreas.

Quais são os Impactos para a Vida Marinha?

A contaminação da água do mar com substâncias químicas levanta preocupações sobre os efeitos potenciais na vida marinha. Em um estudo paralelo no Rio de Janeiro, foram encontrados vestígios de cocaína em tubarões, sugerindo que esses animais poderiam ser contaminados ao ingerirem fluidos oriundos do esgoto. Essa descoberta marca a primeira vez que tal contaminação é verificada em tubarões a nível mundial.

Os pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) foram responsáveis pela descoberta da presença de cocaína nesses animais. A contaminação pode ter efeitos adversos no comportamento e na saúde dos tubarões, o que representa um risco significativo para os ecossistemas marinhos. Se esses animais estiverem sendo contaminados, é provável que outras espécies também estejam enfrentando riscos semelhantes.

Quais são as Consequências para a Saúde Humana?

Embora atualmente não haja evidências diretas de riscos à saúde humana por meio do contato ou consumo de água contaminada, há preocupações crescentes sobre o consumo de peixes e outros frutos do mar que possam ter bioacumulado essas substâncias. A ingestão de animais marinhos contaminados poderia acarretar em possíveis problemas de saúde para os seres humanos, especialmente se o consumo for frequente.

A pesquisadora Luiza Frazão alerta que, mesmo que esses compostos não representem um risco imediato, o acúmulo contínuo na cadeia alimentar pode levar a mudanças nocivas. Se um ponto de inflexão for atingido, as consequências para os ecossistemas marinhos poderiam ser graves e irreversíveis, enfatizando a necessidade de monitoramento e ação para mitigar a poluição química nos oceanos.