Em nota enviada à imprensa, a empresa admitiu que houve vazamento de material industrial da mina Cuiabá, mas que o trabalho de limpeza já está sendo realizado e que estão trabalhando para que a coloração da água volte à normalidade o mais rapidamente possível. A equipe do Portal Aqui questionou se a empresa tem comprovação científica de que o material que escoou pelo rio traz algum risco à população e ao meio ambiente. Em resposta a AngloGold Ashanti disse que o que vazou é parte da rocha extraída do subsolo, que, após passar pelo processo produtivo, é classificado de rejeito não perigoso. Além disso, segundo a empresa, a coloração cinza é característica do próprio mineral. “Reforçamos que a intercorrência não tem relação com a barragem Cuiabá que, por sua vez, se encontra segura e estável. Os órgãos públicos responsáveis foram comunicados e acompanham nossa atuação no caso. A empresa está à disposição para tirar dúvidas da comunidade pelo Canal de Relacionamento: 0800 72 71 500”, assegura a mineradora. Ainda em nota a empresa disse que: “o incidente não tem relação com a barragem Cuiabá, que está segura e estável”.
A Prefeitura de Sabará informou que a AngloGold Ashanti enviou comunicado oficial explicando o ocorrido e que estaria tomando as medidas para correção. Fiscais do meio ambiente do município foram enviados ao local para fazer a coleta da água para análise. Nossa equipe também tentou contato com a Agência Nacional de Mineração (ANM) para saber quais medidas foram adotadas, mas até o momento não tivemos resposta.
ESTUDO SOBRE ÁGUA TÓXICA EM MINAS
No mês passado, uma equipe de pesquisadores mineiros e de outros estados, com apoio do Núcleo de Análise de Resíduos e de Pesticidas da Universidade Federal do Maranhão, mostraram por meio de um estudo que a água que chegou até alguns rios de Minas Gerais com as enchentes de janeiro contém elementos químicos como arsênio, ferro, manganês e chumbo acima dos valores máximos permitidos permitidos pela Deliberação Normativa do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam 01/2008) e pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos de Minas Gerais. De acordo com os cientistas, essas substâncias são comuns em rejeitos do beneficiamento de minério e em excesso podem causar danos à saúde.
Depois das chuvas, muitos moradores de municípios que ficam na região do quadrilátero-ferrífero, em Minas Gerais, relataram queixas de coceira e diarreia. As amostras de água foram coletadas pelos pesquisadores nos dias 16, 17 e 28 de janeiro nas cidades e nos distritos de Piedade do Paraopeba (Brumadinho), Nova Lima, Macacos (São Sebastião das Águas Claras), Rio Acima, Honório Bicalho e Raposos e em São Joaquim de Bicas. Os rios cujas águas foram analisadas pertencem à bacia do rio Paraopeba e à bacia do rio das Velhas, região onde se concentra grande parte das barragens de mineração do estado.
O epidemiologista ambiental e médico Alfésio Braga, professor da Universidade Católica de Santos (UNISANTOS), disse à nossa reportagem que há diferentes tipos de efeitos adversos associados aos quatro elementos químicos encontrados nas amostras da água das enchentes analisadas no estudo e que estavam em concentrações acima do permitido. A exposição crônica ao chumbo, segundo Braga, pode entre vários problemas comprometer a capacidade cognitiva de aprendizagem, especialmente em crianças. Já o arsênio em contato excessivo com o ser humano pode provocar lesões de pele, manchas na unha (tiras esbranquiçadas) e, a longo prazo, até causar câncer. Quanto ao manganês, apesar de o metal não trazer efeitos adversos muito relevantes, não deve ser ingerido, explica o médico. Ainda segundo Braga, quantidades como as apresentadas nas amostras, ao serem ingeridas com água ou consumidas com o preparo de peixes contaminados, podem ser tóxicas e levar a alterações no trato digestivo ou no aparelho neurológico.