
Debra Brown e sua filha Felicity encontraram cartas em Wharton Beach. Crédito: Reprodução/Debra Brown
No início de outubro, as australianas Debra Brown e sua filha Felicity realizavam uma de suas habituais ações de limpeza em Wharton Beach, perto de Esperance, quando fizeram uma descoberta extraordinária. Enquanto recolhiam resíduos da areia, elas avistaram uma garrafa de vidro espesso parcialmente enterrada.
Imediatamente, a curiosidade as levou a examiná-la. Ao abrirem a garrafa, descobriram duas cartas antigas surpreendentemente bem preservadas.
A partir desse momento, a história ganhou um novo significado. As mensagens, escritas há mais de um século por soldados australianos durante a Primeira Guerra Mundial, emergiram das areias de uma praia isolada no sul da Austrália. As cartas, datadas de 1916, foram redigidas poucos dias depois de os combatentes embarcarem rumo aos campos de batalha na França. Nelas, os soldados relataram detalhes da viagem e descreveram a rotina a bordo do navio.
O primeiro autor, o soldado Malcolm Alexander Neville, então com 28 anos, escreveu à mãe para tranquilizá-la. Na carta, ele afirmou que a comida no navio HMAS Ballarat era “muito boa” e que todos estavam “felizes como Larry”. O navio zarpou de Adelaide em 12 de agosto, e Neville redigiu a mensagem apenas três dias depois. Infelizmente, alguns meses mais tarde, o jovem soldado morreu em combate na França, em abril de 1917.
Em contrapartida, o segundo autor, o soldado William Kirk Harley, de 37 anos, escreveu uma mensagem destinada a “quem encontrasse a garrafa”, já que sua mãe havia falecido anos antes. Ao contrário de Neville, Harley sobreviveu à guerra, retornou à Austrália e construiu uma família.
Apesar da umidade, as cartas mantiveram-se legíveis, o que surpreendeu as descobridoras. Diante da importância histórica do achado, Debra Brown decidiu localizar os descendentes dos soldados para devolver-lhes as mensagens. Para isso, ela realizou uma pesquisa online e identificou o sobrinho-neto de Neville, Herbie Neville, ao cruzar o nome do soldado com a cidade mencionada na carta.
“Foi inacreditável para nossa família, especialmente para minha tia Marian Davies, que se lembra do tio partindo para a guerra e nunca voltando”, afirmou Herbie em entrevista à ABC News.
Enquanto isso, a neta de Harley, Ann Turner, expressou profunda emoção ao receber a notícia. “Parece um milagre. Emociona-nos pensar que o jovem Neville ainda tinha uma mãe para quem escrever, enquanto nosso avô, sem ter a quem endereçar a carta, escreveu para quem a encontrasse”, declarou comovida.
Além disso, um professor de oceanografia consultado pela ABC explicou que a garrafa de Harley pode ter flutuado no mar por apenas algumas semanas antes de chegar à costa. Segundo ele, o objeto provavelmente permaneceu enterrado nas dunas por cerca de um século, até que o vento e as marés o revelaram novamente.
Por fim, Debra Brown ressaltou que o acaso da descoberta só aconteceu porque ela e a família mantêm o hábito de limpar as praias locais. “Estamos sempre recolhendo o lixo que aparece na areia; por isso, não poderíamos deixar aquela garrafinha ali. Parecia estar esperando por nós”, concluiu emocionada.