
Descubra por que o vírus da gripe aviária H9N2 pode gerar uma nova pandemia e conheça os riscos, mutações e a importância da vigilância científica. (Créditos: depositphotos.com / dksamco)
Nas últimas décadas, a comunidade científica voltou sua atenção principalmente para o vírus da gripe aviária H5N1, devido à sua gravidade e capacidade de provocar doenças fatais em humanos e animais. Entretanto, especialistas vêm destacando necessidade de acompanhar com maior rigor outros subtipos menos notórios, como o H9N2. Este vírus, ainda que geralmente associado a quadros leves em aves, apresenta características que despertam preocupação quanto ao seu potencial pandêmico.
O H9N2 circula amplamente entre aves, especialmente em mercados e granjas da Ásia, e ocasionalmente provoca infecções humanas, consolidando-se como o segundo subtipo de gripe aviária mais comum em pessoas. Em suma, seu impacto tende a ser subestimado, pois as manifestações em humanos costumam ser leves e raramente resultam em hospitalização. Dessa forma, muitos casos acabam não sendo identificados, o que dificulta a avaliação real da sua prevalência e, por consequência, pode contribuir para um cenário de vigilância insuficiente, dificultando medidas preventivas adequadas para a saúde.
Com o avanço nas técnicas de vigilância genética, pesquisadores notaram que o vírus H9N2 passou por diversas mutações desde 2015, tornando-se gradualmente mais adaptado ao organismo humano. Estudos recentes mostram que variantes do H9N2 coletadas em 2024 apresentam maior capacidade de infectar células humanas, em comparação com amostras anteriores. Portanto, essas modificações indicam que o vírus está adquirindo mecanismos para se ligar às estruturas celulares encontradas em seres humanos, o que pode, eventualmente, aumentar sua capacidade de transmissão entre pessoas.
O risco reside justamente nessa adaptação progressiva. Mesmo que atualmente não existam indícios concretos de transmissão sustentada de pessoa para pessoa, os especialistas monitoram de perto as mudanças genéticas do vírus. Então, o temor é que, com novas alterações, o H9N2 possa ultrapassar as barreiras naturais e se espalhar de maneira mais eficiente. Vale destacar que, em cenários como o atual, em que a vigilância sanitária foi fortalecida pós-pandemia de COVID-19, o monitoramento se tornou ainda mais meticuloso, aumentando a possibilidade de detecção precoce de variantes com comportamento diferente.
A infecção humana por H9N2 geralmente ocorre após contato direto com aves infectadas ou ambientes contaminados, como feiras de aves vivas. Os principais sintomas identificados incluem febre, mal-estar e sintomas respiratórios, semelhantes aos de outras gripes. Em geral, o quadro evolui de forma benigna, favorecendo uma subnotificação significativa, já que os casos leves nem sempre motivam exames laboratoriais específicos. Então, em áreas onde a vigilância para outros subtipos, como H5N1, é prioritária, os diagnósticos de H9N2 acabam sendo menos frequentes.
Para que um vírus da gripe aviária como o H9N2 provoque uma pandemia, é necessário que ele seja capaz de passar de humano para humano de forma eficiente. Segundo especialistas, ainda faltam estágios importantes nesse processo de adaptação. O vírus teria que desenvolver uma preferência mais marcante por receptores presentes em células humanas, além de ajustes para crescer e se multiplicar melhor nas temperaturas e condições do corpo humano — que diferem das observadas nas aves.
Avanços na vigilância genômica, especialmente em centros de pesquisa na Ásia e Oceania, têm sido ferramentas chaves para monitorar a evolução do H9N2. Portanto, as informações coletadas orientam estratégias de controle e prevenção, fundamentando alertas direcionados a mercados, criadouros e setores de saúde pública. Além disso, colaboração internacional se mostrou crucial para compartilhar dados em tempo real, minimizando os riscos de propagação silenciosa.
Diante do cenário atual, manter atenção constante em vírus como o H9N2 se mostra fundamental para evitar surpresas epidemiológicas. O acompanhamento próximo das mutações e a ampliação da vigilância em seres humanos e aves possibilitam detectar precocemente qualquer alteração preocupante, reduzindo o risco de que este subtipo se torne protagonista em um novo desafio global de saúde. Em suma, preparados, seremos mais eficientes na resposta a possíveis emergências futuras.