Ciência

Cometa 3I/ATLAS: astrônomos captam primeiro ‘sinal de rádio’

Um grupo de astrônomos da África do Sul detectou o que descrevem como o primeiro sinal de rádio emitido pelo cometa 3I/ATLAS, um dos corpos celestes mais enigmáticos já observados em passagem pelo Sistema Solar. As ondas foram captadas pelo radiotelescópio MeerKAT no momento em que o objeto, classificado como uma “anomalia interestelar”, seguia sua rota em direção à Terra — agora a cerca de 327 milhões de quilômetros do planeta.

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A análise inicial revelou a presença de radicais hidroxila (OH) em torno do cometa. Essas moléculas indicam que sua superfície atinge aproximadamente -45 °C e que o corpo celeste mede até 9,6 quilômetros de diâmetro. Para os cientistas, trata-se de mais um visitante vindo de fora do Sistema Solar, o terceiro já identificado desde o famoso 1I/‘Oumuamua.

Entre a ciência e o mistério

Nem todos, porém, concordam com a explicação convencional. O astrofísico Avi Loeb, da Universidade de Harvard, publicou um artigo defendendo que o 3I/ATLAS poderia ser algo mais do que um cometa. Para ele, o tamanho incomum, estimado em 50 bilhões de toneladas, e suas características atípicas levantam a hipótese de se tratar de uma nave interestelar construída por outra civilização.

Em seu blog, Loeb argumenta que seria improvável que um objeto natural tão grande fosse o terceiro a ser detectado em tão pouco tempo. A maioria dos astrônomos, entretanto, descarta a hipótese extraterrestre.

Estudos publicados pelo portal Live Science indicam que as ondas de rádio captadas são compatíveis com processos naturais, associados à desgaseificação — quando moléculas de água são expelidas do núcleo de um cometa e se decompõem sob a radiação solar, produzindo radicais hidroxila. Esse fenômeno é considerado uma assinatura de atividade cometária.

Observações em andamento

O 3I/ATLAS, descoberto em 1º de julho de 2025, deve atingir seu ponto mais próximo da Terra em 19 de dezembro, segundo a Nasa. Ele é apontado como possivelmente o mais antigo objeto interestelar já identificado, tendo sido expulso de um sistema estelar distante há até 7 bilhões de anos.

Desde o início de novembro, a sonda JUICE (Jupiter Icy Moons Explorer), da Agência Espacial Europeia (ESA), realiza medições detalhadas do cometa com o apoio de instrumentos especializados. As observações ocorrem entre 2 e 25 de novembro, período em que o objeto foi visto mudando temporariamente de cor após desaparecer brevemente atrás do Sol, durante o periélio.

Para a comunidade científica, o sinal de rádio detectado pelo MeerKAT representa uma nova oportunidade para entender a composição e a origem de corpos vindos de fora do Sistema Solar, e, talvez, refutar de vez a hipótese de que o 3I/ATLAS seja algo mais do que um antigo viajante cósmico.

Mariana Cardoso Carvalho