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Ciência

Homem picado por cobras centenas de vezes ajuda na criação de antídoto promissor

Após anos se injetando com venenos letais, norte-americano gera anticorpos que inspiram estudo sobre possível antídoto universal contra picadas de serpente

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Cobra naja com capuz expandido em posição de alerta, fotografada em um campo aberto durante o dia.
Tim passou anos injetando veneno de naja em si mesmo (Foto: pixabay)

Um americano obcecado por cobras virou peça-chave para o avanço científico no combate ao envenenamento por serpentes. Tim Friede, morador de Wisconsin, passou anos injetando deliberadamente em si mesmo pequenas doses de veneno de cobras letais como mambas e najas. Sem qualquer acompanhamento médico, enfrentou convulsões, febres e quase perdeu a vida em diversas ocasiões. Sobreviveu e seu sangue se tornou material de estudo.

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Pesquisadores analisaram amostras de Friede e encontraram dois anticorpos potentes produzidos por seu organismo após anos de exposição. Em testes com camundongos, os anticorpos neutralizaram toxinas de várias cobras do grupo dos elapídeos, como mambas, cobras-corais e najas. O estudo, publicado na revista iScience, aponta para a possibilidade de criar um antídoto com ação mais ampla do que os disponíveis atualmente, que são específicos para cada tipo de serpente.

Hoje, os antivenenos enfrentam grandes limitações: são caros, exigem identificação precisa da cobra e nem sempre estão disponíveis em áreas remotas, onde a maioria das vítimas está. A Organização Mundial da Saúde estima 110 mil mortes por ano por picadas de cobra, número que pode ser ainda maior devido à subnotificação em regiões rurais.

Apesar do avanço, o estudo ainda está nos estágios iniciais e os anticorpos só se mostraram eficazes contra elapídeos, sem ação comprovada contra víboras como cascavéis e jararacas. Mesmo assim, os cientistas veem no sangue de Friede uma pista promissora para o desenvolvimento de antídotos mais eficazes e universais.