A cada rodada do Campeonato Brasileiro só tenho uma certeza: algum clube vai reclamar da arbitragem. Ou mais de um, como ocorreu na 30ª rodada, no último fim de semana, quando Botafogo, Corinthians e Internacional ficaram na bronca por se sentirem prejudicados pela marcação ou omissão de quem toma decisões em campo ou na cabine do vídeo.
Isso é uma das características mais antigas do nosso futebol. Nem mesmo o aumento do número de árbitros e assistentes envolvidos – atualmente são nove os escalados para mediar cada partida – e o advento do auxílio eletrônico colocou ponto final às polêmicas de arbitragem.
As causas passam pela característica do esporte e também pela nossa própria postura. Quase todos em campo tentam enganar a arbitragem, sejam os 22 que estão atuando ou os 22 que estão no banco de reservas, passando pelo muitos membros das comissões técnica e dirigentes.
Tentar levar vantagem em tudo parece ser inerente ao DNA brasileiro. Até os que se dizem religiosos costumam simular faltas, agressões ou tentam tirar proveito de um descuido ou da incapacidade do olho humano em algum lance para levar o time que defendem aos três pontos, ainda que isso vá contra os ensinamentos dos livros que dizem seguir.
Outro ponto que considero crucial é a profissionalização para valer dos árbitros. Ainda que muitos deles tenham na arbitragem a principal fonte de renda, precisam desempenhar outras atividades, quando deveriam se dedicar 100% ao esporte, como fazem atletas, treinadores, preparadores físicos, analistas de desempenho, entre outros.
Não sou ingênuo de achar que chegaremos a 100% de perfeição. Mas podemos melhorar muito se todos se unirem em busca do objetivo comum, que é ter disputas limpas e sem ninguém sendo beneficiado/prejudicado.
Enquanto isso não ocorrer, enquanto cada clube achar que há um complô contra ele ou a favor de um rival, vamos ouvir reclamações. Algumas com razão, outras sem o menor fundamento.
SONHO COM A AMÉRICA
O futebol brasileiro conseguiu chegar às finais dos dois torneios continentais de clubes nesta temporada. Se o Fortaleza deixou escapar a maior conquista de sua história ao cair nos pênaltis diante da LDU, do Equador, depois de empate por 1 a 1 no tempo regulamentar, no qual teve chance de ficar com o título, no Uruguai, o Fluminense tem a “faca e o queijo na mão”, como dizemos em Minas, para dominar a América pela primeira vez.
Digo isso porque a decisão, em jogo único, será no Maracanã, “casa” do time carioca, que divide a administração do estádio com o rival Flamengo. Além do mais, é um time mais bem preparado e com jogadores de melhor técnica que o Boca Juniors, o adversário da grande final de sábado, que teve ingressos rapidamente esgotados pelos tricolores.
O Flu só não pode achar que já está ganho. O time perdeu uma final da Libertadores em casa, em 2008, justamente para a agora campeã da Sul-Americana, a LDU, nos pênaltis. Até hoje a torcida lamenta aquela chance desperdiçada, pois a equipe contava com bons jogadores atuando em alto nível, como Thiago Neves, Conca, Washington e Dodô.
Nas semifinais daquela edição, os cariocas eliminaram o Boca, que então defendia o título. Aliás, foi a última conquista da tradicional agremiação argentina na Libertadores, da qual é o segundo maior vencedor, com seis títulos, um a menos que o compatriota Independiente, que perdeu protagonismo e não é campeão continental desde 1984.