Na última sexta-feira, a CBF anunciou, com pompa e circunstância, que as cinco primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro de 2023 apresentaram média de público 30% superior ao mesmo período da edição passada e 15% acima da maior média da história, registrada em 1983. Isso, porém, não se confirmou no clássico mineiro, domingo, que terminou com goleada do Cruzeiro por 4 a 1 sobre o América.

Apenas 4.295 torcedores passaram pelas catracas do Independência, segundo o clube alviverde, proporcionando renda de R$ 208.650. Ainda estou tentando entender ter tão pouca gente em jogo tão importante para ambas as equipes.

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O fato de ter sido marcado para o Dia das Mães certamente tirou um pouco do público, ainda que tenha começado às 18h30. Ou seja, havia tempo suficiente para aquele tradicional almoço em família e a ida ao estádio.

O valor dos ingressos também não me parece influenciar tanto. O tíquete médio foi de R$ 48,57, incluindo a promoção “acesso duplo”, no qual os sócios-torcedores americanos podiam levar um acompanhante.

Um dos principais pontos talvez tenha sido a equivocada estratégia dos dirigentes do Coelho de limitarem a venda para os cruzeirenses. Primeiro porque deixaram, mais uma vez, de ganhar dinheiro. Depois porque o time não se mostrou páreo para a Raposa do técnico Pepa, que foi mais eficiente, principalmente nas finalizações.

Não acredito que teríamos 22 mil pessoas no Horto. Mas certamente poderíamos ter quatro vezes mais torcedores se tivessem destinado mais setores aos azuis do que só a Cadeira Visitante Ismênia.

Que os que fazem futebol em Minas aprendam com os erros. A torcida é a razão de ser do futebol. Sem ela, todos perdem.

OLHO

“Uma pena o clássico ser disputado em estádio vazio. Mas, dentro do possível, daquilo que liberaram em termos de ingressos, parecíamos que estávamos jogando em casa. Ao chegar aqui, estamos habituados a ter tanta gente apoiando, sentindo o calor da torcida. Dessa vez, parecia um jogo nos tempos de pandemia de COVID-19. Mas é o que é”, Pepa, técnico do Cruzeiro

Falta educação

O esquema de manipulação de apostas esportivas em jogos de futebol, denunciado pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) a partir de informações do presidente do Vila Nova-GO, Hugo Jorge Bravo, escancara que o Brasil continua sendo um país de mutretas, rolos e afins. O ambiente do esporte mais popular do mundo, em que o dinheiro é deus, é fértil para subornos e armações de todos os tipos.

Falta educação, tanto formal quanto da própria sociedade. Precisamos ensinar às nossas crianças que as regras existem para ser respeitadas. O trabalho é a única forma de gerar riqueza. Não é certo se apropriar de algo que pertence a outro. O que é público é de todos e deve ser preservado.

Os clubes também podem trabalhar melhor a formação dos jogadores. Muitos já garantem escola e assistência psicológica aos atletas, mas é preciso também contribuir para a formação moral, até porque as famílias algumas vezes não conseguem fazer isso.

Pessoas públicas, como os jogadores de futebol, costumam ser exemplo para nossos jovens. Se não se comportam como esperado, podem influenciar uma geração inteira a encarar o malfeito como uma coisa normal. Por isso, as punições aos que forem culpados neste caso devem ser exemplares. Para o bem do futebol. Para o bem da nossa sociedade.

Paulo Galvão

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