Poucas vezes depois da proclamação da Independência, em 1722, os brasileiros têm escutado tanto o sotaque português como nos últimos quatro anos. E isso não se deve ao bom relacionamento entre os governos dos dois países, à chegada em massa de empresas vindas do outro lado do Atlântico ou à invasão de filmes produzidos na Europa, mas ao futebol.

Nada menos que sete times do Campeonato Brasileiro são comandados por lusitanos: do líder Botafogo aos ameaçados Cuiabá e Goiás, passando por Bahia, Bragantino, Cruzeiro e o campeoníssimo Palmeiras. E há grandes chances de o número subir para oito com a contratação de Bruno Lage para substituir o argentino Eduardo Coudet no Atlético.

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Isso tem provocado algumas situações inusitadas e propiciado a todos aprender na prática algumas diferenças entre o jeito que se fala aqui e lá. O Cruzeiro acaba de lançar, em seu canal no Youtube, um “bate-bola” com Pepa e outros integrantes da comissão técnica em que eles explicam algumas expressões que usam e estamos pouco habituados no Brasil, como malta (pessoal, galera), relvado (gramado), balneário (vestiário), magoado (machucado), época (temporada), claque/adepto (torcida/torcedores), entre outros.

O comandante celeste, aliás, protagonizou cena curiosa logo no primeiro jogo oficial em Belo Horizonte, a vitória por 1 a 0 sobre o Grêmio, pela segunda rodada do Brasileiro, em 22 de abril. Ao ser questionado sobre o jejum de gols que então vivia o atacante Gilberto, disse que não se preocupava, pois “uma hora a bola bate no c(*) e entra”.

O uso do termo, um palavrão no Brasil, pode ter assustado quem acompanhava a entrevista coletiva concedida no Mineirão. Mas é muito comum e não ofensivo em Portugal.

Vamos ter de nos acostumar, pois a presença de portugueses no nosso futebol não é uma moda. E pode até chegar à Seleção Brasileira, sonho de Jorge Jesus, campeão brasileiro da Copa Libertadores com o Flamengo em 2019 e que acaba de se despedir do Fenerbahçe-TUR.

A bola pune quem não aproveita chances

Por falar em jejum de gols de Gilberto – e também do outro centroavante celeste, Henrique Dourado –, estou impressionado com as chances desperdiçadas por eles e outros bons jogadores no fim de semana. A começar pelo rival do Cruzeiro, o Atlético, que poderia ter vencido o Bragantino até com certa facilidade, mas não passou do 1 a 1, no Gigante da Pampulha. O Galo foi vítima de uma das regras do futebol que não está escrita, mas costuma ser muito respeitada pelas equipes: quem não faz gols acaba sofrendo.

O mesmo aconteceu em ao menos três outros jogos da 10ª rodada. O São Paulo dominou o segundo tempo contra o Palmeiras, mas pagou também por falhas individuais do zagueiro Arboleda e acabou derrotado por 2 a 0 no Morumbi. Já o Vasco lutou bastante, mas parou na trave e em boa atuação do goleiro John, do Internacional, que venceu por 2 a 1, no Beira-Rio.

Mas impressionante mesmo foram as chances não convertidas pelo Grêmio contra o Flamengo. De bolas na trave e no travessão a chutes raspando o alvo, passando por zagueiro salvando quase em cima da linha, foram muitas as finalizações perigosas. Já o rubro-negro mandou apenas quatro bolas no gol, mas venceu por 3 a 0, no Maracanã. Ah, o futebol!

Paulo Galvão

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