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É preciso preservar a memória do futebol

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Lucas Figueiredo - CBF

As mortes de Mário Jorge Lobo Zagallo e de Franz Beckenbauer foram lamentadas em todo o mundo. E com razão, pois, além de grandes atletas, foram os primeiros a ganhar Copas dos Mundo também como treinadores das seleções de seus países. Apenas um outro profissional conseguiu tal façanha: Didier Deschamps, cuja qualidade em campo não era tão apurada quanto a dos outros dois.

Escrevo isso pelo que li e ouvi sobre o brasileiro e sobre o alemão. Não vi nenhum dos dois com a bola nos pés. Já do francês, tive a oportunidade de cobrir alguns jogos durante a Copa do Mundo de 1998. Era muito bom jogador, mas longe de ser craque.

Claro que tais afirmações podem gerar questionamentos. Primeiro porque o conceito de craque varia de acordo com o nível de exigência de cada um. Depois, porque tenho de me basear também em opiniões alheias.

E as informações vão ficando cada vez menos precisas à medida que o tempo passa. Há cada vez menos gente que viu Zagallo e Beckenbauer jogando. O primeiro atuou em uma época em não havia jogos transmitidos ao vivo. E os chamados “tapes” não eram arquivados depois de exibidos.

Mesmo do Kaiser, 14 anos mais novo que o Velho Lobo e que atuou na Europa e nos EUA, não é tão fácil encontrar jogos completos. Talvez a culpa seja minha pouca habilidade com os mecanismos de buscas da internet. Ou pelo fato de que a tecnologia não era tão desenvolvida – é preciso um espaço enorme para guardar os velhos rolos de filme ou mesmo as fitas magnéticas de forma adequada.

Há a possibilidade de consultar revistas e jornais em hemerotecas. Mas novamente vamos ter de confiar no discernimento de quem escreveu o texto. E isso nem sempre ocorre. Um jornalista, com o qual aprendi muito, diz que “Zico nunca jogava mal” nas páginas de determinado periódico do Rio. Ele nunca questionou a qualidade do Galinho de Quintino, mas, sim, um tom um pouco mais crítico a ele em determinadas crônicas.

O certo é que, sem muitos registros em vídeo, vale mais a memória de cada testemunha da história. E aí, um bom jogador do passado pode virar craque dependendo de quão simpático era aos olhos de quem relembra suas atuações. Ou um atleta acima da média se torna apenas “esforçado” se atuava no rival do narrador do fato ou se foi contemporâneo de gênios da bola.

Hoje, com os registros digitais, é bem mais fácil preservar a memória do nosso futebol. Mas nem assim estamos livres de cometer injustiças. Bom mesmo é ter tempo para rever grandes jogos, ler biografias, aprender sobre esquemas táticos e estilos de jogo. E, a partir daí, tirar as próprias conclusões.

Obrigado, Zagallo

Zagallo nunca foi unanimidade, seja como jogador ou treinador. Mas é inegável que foi um grande vencedor no esporte. E também uma pessoa extremamente acessível.

Tive a oportunidade de conhecê-lo cobrindo a Copa América de 1997, na Bolívia, e a Copa do Mundo do ano seguinte, competições nas quais ele foi técnico da Seleção Brasileira.

Pouco antes do embarque para a França, consegui uma entrevista exclusiva com ele. Nada formal. Após a coletiva na Granja Comary, me respondeu quatro ou cinco perguntas enquanto saía da sala, depois de o então jovem repórter muito insistir com o assessor de imprensa Antônio Robério Vieira, que tinha o apelido de “Gata Mansa”. Foi capa do jornal. E um grande impulso na minha carreira. Valeu, Zagallo!

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