Até pouco tempo, a imprensa podia acompanhar as atividades diárias das equipes de futebol. Repórteres, fotógrafos e cinegrafistas ficavam na beira dos campos dos centros de treinamentos (CTs) e podiam acompanhar e registrar bem de perto tudo que se passava dentro das quatro linhas, até mesmo algumas jogadas ensaiadas, definição de posicionamento em escanteios e faltas a favor e contra e cobranças de pênaltis.
Essa proximidade rendia boas matérias. E também dava embasamento aos profissionais na hora de analisar o desempenho dos times como um todo e dos jogadores de forma individual.
Havia aqueles atletas que se saíam muito bem nas práticas durante a semana, mas nem tanto nos jogos. Eram apelidados de “leões de treino”. E também os treinadores que mostravam uma formação aos jornalistas, mas colocavam outra em campo. Faziam o chamado “treino da madrugada”, longe dos olhares bisbilhoteiros.
Esse acesso irrestrito também rendia casos engraçados, nem sempre publicados ou levados ao ar. Um deles ocorreu na Toca da Raposa I – a Toca II ainda não havia sido inaugurada. Um dos atletas era um garoto recém-chegado ao clube com o status de promessa. Durante um treino de finalizações, o atacante, então com 19 anos, errou todos dos chutes que tentou.
Com o seu jeito próprio de tratar os jogadores, o treinador não teve dúvidas e soltou em alto e bom som: “Se você acertar o gol uma única vez hoje, eu pago rodízio em uma churrascaria para todo mundo”. Não precisou abrir a carteira.
Também se podia presenciar desavenças entre colegas de equipe e até mesmo entradas mais duras. Na maioria das vezes os próprios companheiros controlavam os brigões, mas houve casos em que a comissão técnica teve de intervir e mandar os dois para o vestiário antes do fim da atividade.
Tudo isso foi ficando mais raro à medida que os anos se passaram. Primeiro vieram os horários pré-definidos de acesso aos CTs – ou eram liberados os 15 minutos iniciais ou os 15 minutos finais. Assim, a imprensa acompanhava só o aquecimento ou apenas os atletas se alongando em campo.
Com a COVID-19, todas as atividades foram fechadas por motivos de controle sanitário. Mas mesmo depois que a pandemia passou, os clubes não retomaram a conduta anterior.
Agora, alguns estão permitindo acessos esporádicos da imprensa aos treinos, mas nada perto do que existia. Os tempos são outros, os clubes têm os próprios meios de gerar conteúdo e faturar com isso, não precisam da imprensa para expor sua marca e seus patrocinadores ou divulgar o que lhes interessa.
O problema é que, dessa forma, o público fica apenas com a versão “oficial” dos fatos. Mas não há saída. Os daqui só estão seguindo o caminho trilhado por clubes da Europa desde antes do advento das redes sociais ou da internet como a conhecemos hoje.
Cabe a nós, jornalistas, buscar outras formas de fazer a cobertura de forma atraente. As boas histórias estão aí. Só temos de descobri-las e contá-las.
O futebol vive me enganando. No domingo, o América, time de melhor ataque do Campeonato Mineiro (16 gols), recebeu o Villa Nova, dono da quinta pior defesa (nove gols sofridos), no Independência. Além disso, o Coelho vinha de boa vitória no clássico contra o Cruzeiro, enquanto o Leão do Bonfim havia sido surrado pelo Athletic por 4 a 1 dentro da própria casa.
A lógica seria uma vitória americana sem maiores problemas. Mas o que se viu foi um empate em 0 a 0, com poucas chances reais de gol.
Cada jogo tem sua história, é verdade. Mas uma coisa nunca muda: continuo péssimo de palpite.