O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, encasquetou com a contratação de Carlo Ancelotti para técnico da Seleção Brasileira. Tanto que está disposto a esperá-lo até o meio do ano que vem. Isso causa um desgaste desnecessário ao dirigente, que chegou ao cargo de forma interina em 2021, escolhido pelo Conselho de Administração da entidade para o lugar de Rogério Caboclo, afastado pela Comissão de Ética – em março deste ano, foi candidato único e eleito para mandato até 2026.
Coincidentemente, é quando será realizada a próxima Copa do Mundo, sediada conjuntamente por Canadá, EUA e México. Claro que o principal objetivo da CBF é ver o Brasil novamente campeão mundial e para isso o esforço de ter o melhor comandante possível é muito válido. Só não sei se haverá paciência por parte da imprensa e da opinião pública com a opção por manter um interino no cargo por tanto tempo.
Não acho que haverá muito problema quanto aos resultados no início das Eliminatórias Sul-Americanas, marcadas para começar em setembro. Muito menos em amistosos. Mas qualquer turbulência mais à frente vai ser colocada na conta do baiano de Vitória da Conquista e na espera excessiva por um treinador, ainda mais um estrangeiro, que precisará de tempo para tomar pé das peculiaridades do futebol sul-americano como um todo e do brasileiro em particular.
Apesar de ter muita experiência com jogadores nascidos a um oceano de distância da Itália natal dele ou da Espanha, onde trabalha atualmente, as coisas aqui costumam ser diferentes. E em seleção não há muito tempo para treinar.
Não estou julgando a decisão de Rodrigues. Não há fórmula pronta no futebol e muitas vezes o que parece ser muito certo dá errado, enquanto o que inicialmente é claramente equivocado acaba em títulos. A questão é só mesmo de um risco desnecessário.
Se não tivesse deixado vazar a preferência por Ancelotti ou a disposição para esperá-lo até junho do ano que vem, seria tudo mais fácil para o presidente da CBF. O cargo de treinador da Seleção Brasileira já ficou vago por períodos longos sem maior repercussão. Entre a demissão de Vanderlei Luxemburgo, em setembro de 2000, e a contratação de Emerson Leão, em março de 2001, se passaram seis meses. Já entre a saída de Luiz Felipe Scolari, em agosto de 2002, e o retorno de Carlos Alberto Parreira, em fevereiro do ano seguinte, também foram cerca de 180 dias.
Antes, houve períodos ainda maiores de vacância do cargo. Um deles envolveu dois mineiros: da saída de Telê Santana, em junho de 1986, à chegada Carlos Alberto Silva, em maio de 1987, se passaram 11 meses. Já a queda de Zagallo, em julho de 1974, ocorreu mais de um ano antes da contratação de Osvaldo Brandão pela CBD, antecessora da CBF.
Ou seja, não é novidade nenhuma na história da Seleção a opção do atual mandatário. Falta é ter um pouco mais de malícia na condução do processo.
Os companheiros Bruno Vicari e Pedro Ivo Almeida, da ESPN, noticiaram que uma forma de convencer Ancelotti a aceitar assumir a Seleção Brasileira no meio do ano que vem foi oferecer ao filho do técnico, Davide Ancelotti, função na atual comissão técnica da equipe. Ele sairia agora do Real Madrid para fazer a transição até a chegada do pai, analisando jogadores a serem convocados e traçando o planejamento.
É curioso como os treinadores gostam de ter os filhos por perto no trabalho. Tite costuma ter como um de seus assistentes Matheus Bachi, que é o primogênito da família. O mesmo vale para Dorival Júnior, que leva o mais velho da prole, Lucas Silvestre, para os clubes onde trabalha. Todos muito bem remunerados, claro