Curiosidades

Conheça a ‘Bíblia do Diabo’, manuscrito de 800 anos cercado por lendas

Um dos artefatos mais enigmáticos da Idade Média atende pelo nome de Codex Gigas. O manuscrito, produzido há cerca de 800 anos, ganhou a fama de “Bíblia do Diabo” pelas lendas que o cercam e pelo tamanho monumental.

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A mais conhecida dessas lendas atribui a criação do manuscrito a um monge que, condenado a ser emparedado vivo, teria prometido escrever em uma única noite o maior livro do mundo para escapar da pena. Diante da impossibilidade de cumprir a promessa, o homem teria invocado o próprio Demônio, oferecendo a alma em troca de ajuda. Como marca do pacto, uma ilustração em página inteira retrata uma figura monstruosa de garras, chifres e língua bifurcada.

Uma biblioteca em um só volume

As dimensões do Codex Gigas são impressionantes: quase um metro de altura, 51 centímetros de largura e aproximadamente 75 quilos. O livro reúne 310 folhas de pergaminho, produzidas a partir do couro de mais de 160 animais, e funciona como uma biblioteca. Nele estão reunidos, entre outros tesouros, o Antigo e o Novo Testamento, textos do historiador judeu Flávio Josefo e do teólogo Isidoro de Sevilha, um manual médico do século XII e resumos de alfabetos antigos. Até mesmo feitiços feitiços e exorcismos são encontrados ao longo dos registros.

O que mais chama a atenção, no entanto, é a ilustração que rendeu ao manuscrito a fama de Bíblia do Diabo no imaginário popular. Bem ao lado da representação do Demônio, outra imagem, a da Cidade Celestial, intriga pelo contraste. Para estudiosos, elas podem estar juntas a fim de simbolizar céu e inferno, as possibilidades de vida após a morte dentro da fé cristã.

Manuscrito é tão pesado quanto uma pessoa adulta | Michal Maňas/Wikimedia Commons

Da Boêmia à Suécia

Produzido provavelmente entre 1204 e 1230 por um único escriba, o manuscrito percorreu mosteiros até chegar à cidade de Praga, em 1594, levado pelo imperador Rodolfo II, conhecido pelo interesse no ocultismo. Mais tarde, durante a Guerra dos Trinta Anos, em 1648, acabou saqueado por tropas suecas e transportado para Estocolmo. Desde então, permanece na Biblioteca Nacional da Suécia, conservado sob rígidas condições de segurança.

Ao longo dos séculos, novas lendas surgiram e continuam atravessando gerações. Há relatos, por exemplo, de guardas que teriam visto o livro flutuar e até a crença de que o dramaturgo sueco August Strindberg teria usado suas páginas em rituais de contato com o submundo.

Mariana Cardoso Carvalho

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