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Por que tantos brasileiros se chamam Silva? Entenda a história por trás do sobrenome mais comum do país

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, pela primeira vez, a lista dos sobrenomes mais comuns do país, e confirmou o que muitos já suspeitavam, o Brasil é, literalmente, um país de Silvas.

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Segundo o levantamento, publicado nessa última terça-feira (4), mais de 34 milhões de brasileiros têm Silva no nome, o equivalente a 16,76% da população. Em seguida, aparecem Santos (21,4 milhões) e Oliveira (11,7 milhões).

Os dados fazem parte de um mapeamento inédito sobre cerca de 200 mil sobrenomes registrados no país. A pesquisa foi publicada pela Folha de S.Paulo, com base nas informações oficiais do instituto.

Top 5 sobrenomes do Brasil segundo o IBGE

  • 1- Silva – 34.030.104
  • 2- Santos – 21.367.475
  • 3- Oliveira – 11.708.947
  • 4- Souza – 9.197.158
  • 5- Pereira – 6.888.212

De onde vem o sobrenome Silva?

O sobrenome Silva tem raízes antigas e um significado literal: vem do latim silva, que quer dizer “selva” ou “floresta”. Segundo o Dicionário das Famílias Brasileiras, de Carlos Eduardo Barata e Antonio Henrique da Cunha Bueno, o termo era usado no Império Romano para designar pessoas vindas de regiões arborizadas.

Com a queda do império, o nome desapareceu por séculos e voltou a ser usado por volta do século XI, na Península Ibérica. No Brasil, o sobrenome se popularizou durante o período colonial, trazido por portugueses, muitos deles o adotavam em busca de anonimato.

Além disso, pessoas escravizadas também recebiam o sobrenome Silva de seus senhores, geralmente com a preposição “da”, como em da Silva, indicando posse. Essa herança explica parte da grande presença do nome entre brasileiros negros e pardos até hoje.

Segundo o IBGE, o sobrenome é mais comum nos estados de Alagoas e Pernambuco, onde cerca de 35% da população carrega o nome. O município com maior concentração é Belém de Maria (PE), onde 63,9% dos moradores são Silva.

Por que temos sobrenomes?

Os sobrenomes surgiram da necessidade de distinguir pessoas com o mesmo nome. Durante a Idade Média, era comum identificar alguém pelo ofício (Ferreira, Müller, Taylor), aparência (Roux, Long) ou local de origem (Ribeiro, Costa).

Com o tempo, esses apelidos se tornaram hereditários e passaram a carregar a história de famílias, regiões e até religiões.

No Brasil, essa diversidade cresceu com a mistura de tradições europeias, africanas e indígenas. O registro civil obrigatório, criado no fim do século 19, ajudou a consolidar a prática de usar sobrenomes fixos, geralmente herdados do pai e da mãe.

O peso histórico dos sobrenomes

Além de indicar origem, sobrenomes também carregam marcas sociais e históricas. O costume de mulheres adotarem o nome do marido, por exemplo, veio da Inglaterra medieval, onde o ato simbolizava que todos os bens da esposa passavam a pertencer ao homem.

Essa prática se espalhou por países colonizados, como o Brasil, e foi oficializada pelo Código Civil de 1916. A obrigatoriedade só caiu em 1977, com a Lei do Divórcio. Hoje, a escolha é livre: a mulher pode manter o próprio nome, adotar o do parceiro ou o contrário.

Segundo a Associação de Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), o número de casamentos em que a esposa adota o sobrenome do marido caiu 30% entre 2002 e 2022, enquanto os casais que mantêm seus nomes aumentaram mais de 40%.

Quando um nome vira legado

Com o passar do tempo, alguns sobrenomes se transformaram em verdadeiras marcas familiares. Casos como Moreira Salles, ligado à elite econômica e cultural brasileira, e Ruy Barbosa, herdado do jurista baiano, mostram como um nome pode ganhar novo significado.

Essas combinações, nascidas da junção de famílias ou da força de figuras públicas, continuam a moldar a história dos sobrenomes brasileiros, símbolos de identidade, memória e pertencimento.

Maria Clara Landim

Jornalista formada pela PUC Minas, com experiência em fotojornalismo, assessoria de imprensa e jornalismo digital. Já atuou nas redes sociais e na redação da Rádio Itatiaia e como pesquisadora na Comunidade Quilombola de Pinhões. Atualmente, é repórter e redatora nos portais Sou BH e Aqui.