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Ex-evangélico, cantora trans fala como foi sair da igreja e dá conselhos

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Ella compartilha como foi difícil a aceitação dentro da família
Reprodução/Instagram

A cantora Ella, aos 26 anos, compartilha sua jornada de fama desde a infância, quando se destacou no programa de Raul Gil aos 11 anos, até sua notoriedade na música gospel, sendo indicada ao Grammy Latino. Porém, sua trajetória também é marcada pela transição de gênero e pela defesa aberta da população LGBTQIA+.

Apesar dos ataques e das transformações que enfrentou nos últimos anos, Ella mantém o desejo de ser cada vez mais autêntica consigo mesma . “Me privei a vida inteira de levar minha verdade. Falei sobre Deus, sobre histórias da Bíblia e não falei sobre mim. Hoje, estou muito disposta a isso, não quero ser uma artista engessada”, disse recentemente em uma entrevista.

A artista também expressa críticas à ausência de restrições aos comentários transfóbicos em plataformas online: “Já tomei ações contra algumas pessoas, mas imagine ter que tirar um tempo de denunciar mil pessoas, fazer boletim de ocorrência cada vez que eu posto uma foto?”, lamenta.

O processo de transição da cantora começou aos 18 anos, quando deixou de morar com a mãe. Naquela época, a cantora foi viver na Colômbia e se assumiu primeiro como um homem gay, mas ainda não se sentia confortável com aquela identidade. Então, viu mulheres trans e travestis pela primeira vez na vida e se reconheceu nelas.

Ella relembra quando teve o primeiro contato com a comunidade trans: “Tive contato pela primeira vez e, naquele mesmo instante, elas já começaram a me falar sobre a hormonoterapia. Foi uma coisa muito rápida, porque eu me visualizei como elas. Não tinha tido acesso a isso antes, então foi muito Incrível essa oportunidade de conhecer aquelas pessoas”.

Para Ella, afastar-se do restante da família foi fundamental para sua autoaceitação, pois anteriormente vivia em um ambiente marcado pelo preconceito e conservadorismo. Ela até mesmo enfrentou transfobia por parte da mãe, mas ao longo do tempo a relação entre elas mudou, culminando no lançamento de uma música e um videoclipe em homenagem à mãe na última sexta-feira (10).

Ella não sê mais no gospel: “foi muito tóxico para mim”

“Minha mãe vem de um berço totalmente cristão e fundamentalista, em que acreditava que era totalmente errado eu me assumir, me expressar como uma mulher trans. Nunca passou pela cabeça dela que isso poderia acontecer, sempre sofri muito essa castração de não poder me expressar da maneira que eu era. Posso dizer que ela era uma mulher preconceituosa e, por conta da minha transição, ela reaprende o que é ser mãe e a ter esse amor incondicional independentemente da fé”, conta.

Ella observa que a mãe alterou sua perspectiva ao perceber que era necessário manter o contato com a filha. Embora respeite e apoie a cantora, a mãe ainda frequenta igrejas cristãs, mas Ella, que já não está mais envolvida com a música gospel, opta por manter certa distância desses ambientes.

“Posso dizer que foi muito tóxico para mim esse processo de autoaceitação, até porque, quando eu era criança, era contratada por um líder religioso, o Silas Malafaia, que prega contra a nossa causa. Então, foi muito difícil me desprender de tudo isso e ter coragem de ser eu mesma”, relembra.

Com a transição de gênero, a cantora viu uma significativa redução no público que a seguia, além de enfrentar ataques transfóbicos frequentes nas redes sociais, chegando ao ponto de perder dois perfis no Instagram.

“Recebo muita transfobia. Acho importante trazer essa pauta para ver o quanto as plataformas ainda trabalham de forma errada, porque eles não limitam esse tipo de comentário Fico muito triste de ver que têm tantos usuários transfóbicos tendo direito de poder espalhar tanto ódio assim. Já tomei ações contra algumas pessoas, mas imagine ter que tirar um tempo de denunciar mil pessoas, fazer boletim de ocorrência cada vez que eu posto uma foto?”, lamenta a artista.

Por fim, Ella oferece conselhos para pessoas LGBTQIA+ que vivem em ambientes preconceituosos e conservadores, semelhantes aos que ela enfrentou. “Não deixe de sentir, não deixe de viver. Muitas pessoas vivem aprisionadas, com depressão, porque querem experimentar aquela espiritualidade, querem estar naquele ambiente e, ao mesmo tempo, não podem ser ela mesmas. Existem muitas igrejas evangélicas inclusivas, jovens que querem ser cristãos não devem se forçar a estar num ambiente onde eles não são aceitos, talvez eles possam encontrar em outra igreja”, conclui.