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Escassez de camisas 10 no Brasil

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Reprodução

Desde o gênio Pelé, o futebol brasileiro desenvolveu uma grande atração pelo camisa 10, aquele armador de qualidade técnica acima da média e visão de jogo apurada. Tivemos muitos craques, que podiam até atuar com outro número às costas, mas reuniam as características descritas acima e que viraram item de exportação, tamanha a capacidade de decidir jogos, criar jogadas para os companheiros e protagonizar lances que encantam os torcedores.

Com o tempo, eles foram diminuindo. Ou mudando de posição, pois muitos optaram por jogar mais adiantados e ou fizeram isso a pedido dos treinadores.

Um dos últimos grandes camisas 10 do Brasil foi Ronaldinho Gaúcho, que há exatos 10 anos deixou o Atlético. O Cruzeiro ainda contou com Thiago Neves atuando em alto nível até 2018. Paulo Henrique Ganso começou como 10 no Santos, mas vem jogando mais recuado no Fluminense, como segundo volante.

Incrivelmente, alguns dos melhores camisas 10 em ação no Brasil atualmente são estrangeiros, casos do uruguaio De Arrascaeta, do Flamengo, e do argentino Benítez, do América, vitimado por contusão grave, que o tirou da temporada.

O próprio Matheus Pereira vinha atuando no meio-campo cruzeirense e se saindo bem. Mas cresceu de produção mesmo ao ser deslocado para o ataque por circunstâncias: o técnico Fernando Seabra ficou sem centroavante com as contusões de Dinenno e Rafa Silva – Rafael Papagaio nunca conseguiu se firmar – e se viu obrigado a mexer as peças.

A falta de um armador clássico chegou à Seleção Brasileira. Neste ano, por exemplo, o número 10 foi parar nas costas do atacante Rodrygo, que é muito bom jogador, mas está longe de ser o responsável pela criação, seja no Real Madrid, seja no Escrete Canarinho.

É possível jogar bem sem ter nenhum armador no meio-campo, é verdade, e o Cruzeiro tem provado isso. Para isso, é necessário que os volantes tenham qualidade de passe, como é o caso dos cruzeirenses Matheus Henrique e de Walace. E também que haja apoio dos laterais, como tem feito tão bem William pela direita. No lado esquerdo celeste, Barreal tem se entendido bem tanto com Marlon quanto com Kaiki, deixando o setor bem forte, como mostrou contra o Botafogo.

Não dá para a gente querer parar no tempo. Futebol, como quase tudo no mundo, muda constantemente. E a gente precisa se acostumar.

Talvez não tenhamos mais tantos craques capazes de destravar retrancas, entortar marcadores, fazer lançamentos de 40 metros com precisão cirúrgica. Mas estamos vivendo uma era de atletas mais versáteis, que atacam e defendem com a mesma intensidade. São os casos de André, do Fluminense; Alisson, do São Paulo (que também se machucou e não atuará mais este ano); Raphael Veiga e Zé Rafael, ambos do Palmeiras, entre outros. Que eles continuem evoluindo. E que os treinadores saibam tirar o máximo de cada um para que nosso futebol não perca qualidade.

Copa do Brasil

Começam hoje as oitavas de final da Copa do Brasil, considerada a competição mais democrática do país e que, como qualquer mata-mata, costuma proporcionar surpresas. Nesta atual edição isso ocorreu logo na primeira fase, com o Cruzeiro caindo para o modesto Sousa-PB.

Apesar do imponderável, o mais provável é que avancem às quartas de final Atlético, Fluminense e São Paulo, que enfrentam, respectivamente, CRB, Juventude e Goiás. Já nos duelos Athletico-PR x Bragantino, Atlético-GO x Vasco, Botafogo x Bahia, Corinthians x Grêmio e Flamengo x Palmeiras, não me arrisco a dar palpite.