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Justiça

Juiz descobre no TikTok que bolsista de medicina pode pagar faculdade e aciona MP

Conforme investigação, jovem vem de família de alto padrão e conseguiria arcar com os custos do curso de medicina

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Prints do TikTok de Gabriella Andrade Viegas
Estudante frauda dados financeiros para conseguir bolsa integral em faculdade de medicina (Reprodução/TikTok)

O juiz Gabriel Lisboa, da Vara da Fazenda Pública Municipal de Anápolis (GO), acionou o Ministério Público de Goiás (MPGO) após identificar possíveis irregularidades na concessão de uma bolsa integral de medicina do Programa GraduAção, mantido pela Prefeitura de Anápolis. A estudante Gabriella Andrade Viegas de Arruda teria apresentado uma renda familiar incompatível com o padrão de vida mostrado no TikTok.

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Suspeita de fraude

Segundo o magistrado, a estudante, que está no penúltimo período do curso de medicina na UniEvangélica, declarou renda de apenas três salários mínimos para manter o benefício, concedido a famílias com renda de até seis salários mínimos. No entanto, publicações no TikTok e em outras redes sociais indicam viagens internacionais, prática de esportes e participação em corridas. Estilo de vida levantou suspeitas sobre a veracidade das informações fornecidas.

Investigação

O caso começou quando Gabriella moveu um processo no qual pedia a manutenção da bolsa, que havia sido suspensa. Inicialmente, ela conseguiu uma liminar favorável, mas a tutela foi posteriormente revogada pelo juiz após inconsistências nos dados apresentados.

Durante a análise, o magistrado verificou que a advogada responsável pela ação é a própria mãe da estudante, Priscilla Silva de Andrade, servidora pública estadual com salário de R$ 8.496,10. O valor, por si só, já ultrapassa o limite declarado pela família.

Além disso, a mãe é proprietária de uma empresa registrada no mesmo endereço em que a estudante vive. O pai, Tiago Viegas de Arruda, é sócio de uma empresa do setor imobiliário e já ocupou cargo de confiança no Instituto de Seguridade Social dos Servidores Municipais de Anápolis (ISSA). O avô materno, com quem a jovem alegava morar em situação de vulnerabilidade, também figura como sócio de uma empresa com capital social de R$ 100 mil, sediada no mesmo imóvel.

Envio do caso ao MP

Diante dos indícios, o magistrado encaminhou o caso ao MPGO e determinou o envio das informações à Receita Federal. A prefeitura também instaurou uma auditoria interna por meio da Portaria nº 020/2025, para investigar eventuais fraudes estruturais no programa de bolsas.

Em nota, a Prefeitura de Anápolis informou que uma comissão especial foi criada para reavaliar os critérios do Programa GraduAção e que os encaminhamentos só serão definidos após a conclusão dos trabalhos.

A decisão judicial aponta suspeitas de uso indevido de verbas públicas, com base em possíveis declarações falsas e omissões por parte da estudante e, possivelmente, de outros beneficiários. O caso segue sob apuração do Ministério Público.