Análises feitas na cratera Gale identificam alcanos de cadeia longa preservados em rochas sedimentares marcianas
A NASA confirmou uma nova descoberta feita pelo rover Curiosity em Marte: moléculas orgânicas complexas foram detectadas na cratera Gale, em uma amostra de rocha sedimentar perfurada em 2014.
A análise foi realizada pelo instrumento SAM (Sample Analysis at Mars), um laboratório em miniatura a bordo do veículo robótico. A descoberta, anunciada recentemente, reforça a hipótese de que, há bilhões de anos, Marte pode ter abrigado ambientes hidrotermais capazes de sustentar formas primitivas de vida.
Os compostos identificados — decano, undecano e dodecano — pertencem ao grupo dos alcanos de cadeia longa, associados à formação de membranas celulares em organismos vivos na Terra. Eles foram liberados de uma rocha chamada Cumberland, um xisto fino extraído do fundo da cratera Gale.
O processo de identificação envolveu um protocolo analítico otimizado dentro do Curiosity, capaz de detectar moléculas orgânicas mesmo em concentrações muito baixas.
A responsável pela equipe que lidera o estudo é a astroquímica francesa Caroline Freissinet. Segundo ela, os dados obtidos indicam que esses compostos estavam possivelmente preservados na forma de ácidos graxos, essenciais à estrutura celular.
A cratera Gale foi escolhida por concentrar evidências de antigos ambientes úmidos e conter minerais como argilas e sulfatos — materiais com forte capacidade de conservar compostos orgânicos ao longo do tempo.
Na Terra, esse tipo de preservação ocorre em regiões com baixa oxidação e soterramento rápido, condições que os cientistas acreditam terem existido em Marte durante seu passado geológico.
Essa não é a primeira vez que sinais de compostos orgânicos são encontrados no planeta vermelho. Mas é a mais robusta até agora. Desde as primeiras sondas Viking, na década de 1970, a busca por bioassinaturas em Marte enfrenta desafios como a forte radiação na superfície, que quebra rapidamente qualquer molécula orgânica exposta.
O avanço desta descoberta está em sua complexidade: os compostos encontrados possuem cadeias mais longas e estruturadas do que os anteriormente detectados, com potencial de serem derivados de ácidos carboxílicos — um tipo de molécula comumente associada à vida.
Ainda assim, a NASA mantém cautela. O próprio instrumento SAM tem limitações e não permite uma análise mais aprofundada da complexidade química, como seria possível em laboratórios terrestres.