
Renê Júnior durante entrevista a Roberto Cabrini, da Record TV, onde negou culpa pela morte do gari Laudemir e disse ter “consciência tranquila”
Em primeira fala pública após a morte do gari Laudemir de Souza Fernandes, o réu Renê da Silva Nogueira Júnior afirmou que mantém a “consciência tranquila” sobre o que ocorreu em 11 de agosto, no bairro Vista Alegre, Região Oeste de Belo Horizonte. A declaração foi dada em entrevista ao jornalista Roberto Cabrini, da Record TV.
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Durante a conversa, Renê Júnior reconheceu a dor da família da vítima. Segundo ele, compreender esse sofrimento não significa assumir responsabilidade pelo disparo que matou o trabalhador. “Já vivi essa dor, sei como é”, afirmou, em tom de justificativa.
Ao ser questionado por Cabrini sobre a possibilidade de pedir desculpas aos familiares de Laudemir, o réu negou qualquer gesto nesse sentido. Renê argumentou que um pedido seria interpretado como admissão de culpa.
“Não posso pedir desculpa porque eu não atirei. Eu estaria confessando uma culpa de uma coisa da qual eu não sou culpado”, declarou. Ainda assim, ele reconheceu que “pode ter ocorrido um incidente” no dia do crime, expressão que adiciona contraditorialidade ao relato e reforça a atenção do processo judicial.
Ao final da entrevista, Cabrini mencionou a tese de que o gari teria sido morto por “extrema arrogância”. Renê rebateu a interpretação e disse que as provas do processo irão responder “às pessoas que acreditam nessa narrativa”.
O réu também rejeitou qualquer motivação discriminatória. Segundo ele, não houve preconceito por cor da pele ou classe social, e sua relação com trabalhadores seria de respeito. “Adoro pessoas que trabalham”, afirmou, acrescentando ter “zero preconceitos”.
A morte de Laudemir provocou forte repercussão em Belo Horizonte e mobilizou moradores do Vista Alegre, que cobram esclarecimentos e responsabilização. A defesa de Renê Júnior sustenta que ele não efetuou o disparo. O Ministério Público e a Polícia Civil seguem analisando provas, depoimentos e laudos periciais para esclarecer a dinâmica dos fatos.
O homicídio ocorreu na manhã de 11 de agosto, por volta das 9h. Durante uma discussão de trânsito, o empresário sacou uma pistola e ameaçou a motorista do caminhão de coleta. Logo depois, atirou em Laudemir, que tentou apaziguar a situação. O gari foi atingido na região torácica e chegou a ser socorrido ao Hospital Santa Rita, em Contagem, mas não resistiu.
Após o disparo, Renê fugiu no carro BYD cinza. Ele foi localizado horas depois, enquanto malhava em uma academia no bairro Estoril, também em Belo Horizonte. O empresário não resistiu à prisão.
Vídeos de câmeras de segurança registraram Renê mantendo uma rotina considerada “normal” após o crime. As imagens mostram o empresário chegando à sede da empresa em Betim, cumprimentando colegas, indo para casa, escondendo a arma na mochila e, em seguida, passeando com os cachorros.
Laudemir de Souza Fernandes trabalhava como gari na Localix Serviços Ambientais. Familiares e colegas o descrevem como um homem pacífico, dedicado e querido, tanto no trabalho quanto em casa. Ele deixou esposa, uma filha de 15 anos e enteadas. Segundo a empresa, o gari tentava evitar o conflito quando foi atingido.
A delegada Ana Paula Lamego Balbino, esposa do empresário, também é investigada. A arma usada no crime, uma pistola calibre .380, está registrada em nome dela e é de uso particular.
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) defende que a delegada deve ser responsabilizada de forma solidária pela morte do gari.
O processo referente a Ana Paula foi desmembrado e encaminhado a uma vara criminal responsável por crimes comuns. Ainda não há previsão para as audiências.