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CHACINA DE UNAÍ: familiares e movimentos sociais querem Antério Mânica atrás das grades

Em decisão da Justiça, Antério Mânica, deverá cumprir 64 anos de prisão pelo assassinato de 4 pessoas do Ministério do Trabalho. A sentença permite que o ex-prefeito de Unaí responda pelos crimes em liberdade.

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Auditores fiscais do trabalho fazem manifestação contra impunidade na morte de trabalhadores na chacina de Unaí. Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press

A viúva do fiscal Nelson Soares da Silva, Helba Soares da Silva, diz que o desfecho desse crime brutal é uma injustiça. “A sensação de insegurança e medo prevalece, até hoje, para os que lutam. Após 18 anos do crime, eu e minha família ainda convivemos com o medo e com acusados livres. Meses antes de ser assassinado meu marido (Nelson Soares da Silva) já se queixava que sofria ameças. Só não imaginávamos que o fim dele estaria tão próximo e que acabaria de forma tão trágica para ele e para os outros três trabalhadores em pleno exercício da profissão”, afirma.

A justiça condenou, nessa semana, Antério Mânica a cumprir 64 anos de prisão pela morte de três fiscais e do motorista do Ministério do trabalho. No entanto, pela sentença o ex-prefeito da cidade poderá recorrer em liberdade. Após a decisão, o Ministério Público afirmou que vai recorrer para que o acusado responda na prisão pela acusação de ser um dos mandantes dos assassinatos. O crime ocorreu há 18 anos na zona rual de Unaí, no Noroeste de Minas Gerais.

“Nós vemos essa decisão como oportunidade de se fazer justiça. E essa justiça que nos referimos é ver Antério Mânica preso, assim como Norberto Mânica (irmão de Antério) preso porque são criminosos condenados pela justiça, que assim como o executores (pagos para matar os fiscais e o motorista do Ministério do Trabalho) são igualmente assassinos. Os executores, todos já condenados foram presos, inclusive, no decorrer desses 18 anos tiveram o regime de pena progredido e já estão todos em liberdade. É claro que isso é o poder econômico, de manobras processuais, da sua utilização sem fim. Mas, nós dos Sindicato Nacional dos Auditores-Fiscais do Trabalho (SINAIT) lutamos e continuaremos a lutar para que os irmãos Mânica estejam onde devem estar: atrás das grades. Nós queríamos ver Antério Mânica sair algemado para cadeia e lamentamos a decisão dele recorrer em liberdade!”, afirma o vice-presidente do SINAIT, Carlos Silva.

DUAS JUSTIÇAS

O assessor da Comissão da Pastoral da Terra, frei Gilvander Moreira, conta que acompanha a luta por justiça desde que o crime ocorreu há 18 anos. “Para todos nós, o que prevalece é uma injustiça porque nenhum dos quatro condenados continua em liberdade, com recursos jurídicos intermináveis enquanto as viúvas e os outros auditores fiscais continuam correndo risco. Continuamos na luta porque enquanto perdurar no Brasil duas justiças: impunidade para os mandantes de gravíssimos massacres e punição em exagero para o povo empobrecido, negro e de periferia jogado nas ‘masmorras’, que representam grande parte das prisões do país, sem terem sido ao menos julgados e condenados. Agora, quatro mandantes do massacre de Unaí, condenados a 100 anos de cadeia (no caso de Antério Mânica houve essa redução da pena para 64 anos) continuarem há mais de 18 anos livres fomenta e incentiva massacres, especialmente em decorrência dessa impunidade”.

Para a viúva Helba Soares, a luta não termina com essa condenação. “Pelo contrário, queremos todos na cadeia para que a justiça seja feita e para que todos nós que estamos em busca de reparação possamos viver em paz e, especialmente, para que crimes como este não aconteçam novamente”, afirma.

A equipe do Portal Aqui tentou contato com os advogados acusados pelo crime e, até o fim da reportagem, não tivemos retorno.

ENTENDA O CASO

Em 28 de janeiro de 2004, Eratóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva foram assassinados após tiroteio em uma emboscada, na zona rural de Unaí. Os três auditores fiscais do Ministério do Trabalho investigavam condições análogas à escravidão na região, incluindo as propriedades da família Mânica. O motorista dos auditores, Ailton Pereira de Oliveira, que acompanhava o grupo, também foi morto.

Além de Antério Mânica, o irmão dele, Norberto, foi condenado como outro mandante da chacina, e, responde pelo crime em liberdade. Segundo a Justiça, Hugo Alves Pimenta, José Alberto de Castro, Erinaldo de Vasconcelos Silva, Rogério Alan Rocha Rios e Willian Gomes de Miranda, também foram acusados por envolvimento no crime.

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