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Estudante premiado pelo MEC é acusado de usar memória de pré-testes do Enem para antecipar questões da prova

O estudante de Medicina Edcley Teixeira, criador de conteúdos preparatórios para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), se tornou alvo de críticas e suspeitas após afirmar que utilizava a memória de pré-testes aplicados pelo Ministério da Educação (MEC) para produzir aulas e materiais divulgados em suas redes sociais. Apesar disso, ele recebeu R$ 5 mil do Prêmio CAPES Talento Universitário, iniciativa do próprio MEC.

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A situação ganhou repercussão porque, cinco dias antes do Enem 2025, Edcley publicou itens extremamente semelhantes aos que caíram na prova oficial, inclusive reproduzindo alternativas idênticas em questões de Biologia. O conteúdo chegou a ser visto por usuários nas redes sociais, mas foi apagado posteriormente do Instagram, X, Facebook e até do LinkedIn do MEC, que havia compartilhado o vídeo de divulgação do prêmio.

Como Edcley dizia atuar

Nas redes sociais, o estudante se apresentava como alguém capaz de antecipar tanto o estilo quanto o conteúdo das perguntas do Enem. Ele afirmava participar dos pré-testes do Inep, mecanismo utilizado para medir qualidade e dificuldade de itens antes da inclusão no exame. Segundo ele, detalhes dessas aplicações seriam memorizados e reutilizados em aulas, vídeos e apostilas vendidas em seu curso na internet.

Em um dos materiais disponibilizados por Edcley, intitulado “Essas questões estarão no Enem 2023”, ele relata que, com a ajuda de cinco colegas, conseguiu lembrar cerca de “90 questões inéditas” de um pré-teste. O arquivo, criado em 8 de junho de 2023 no Google Drive, também afirma que todas as perguntas seriam “criações originais”, ainda que inspiradas em itens reais. Para o estudante, por se tratar de memória pessoal, “não haveria risco jurídico”.

A live que levantou suspeitas

A transmissão mais recente de Edcley, feita no YouTube em 11 de novembro de 2025, reforçou as críticas. Na correção de um item de número 34, ele apresentou uma questão de Biologia sobre espécies que evoluem e permanecem restritas a ambientes específicos. O Enem deste ano trouxe tema idêntico, com enunciado diferente, porém quatro das cinco alternativas eram iguais às apresentadas pelo estudante, inclusive a correta.

Esse paralelo aumentou as dúvidas sobre o possível uso indevido de informações consideradas sigilosas.

Quem é Edcley Teixeira

Segundo um perfil atribuído a ele no site Escavador, Edcley cursa o quinto período de Medicina na Universidade Federal do Ceará (UFC) e administra uma empresa dedicada ao ensino pré-vestibular, que oferece aulas de todas as áreas do conhecimento.

O prêmio recebido pelo MEC, segundo o próprio estudante, foi usado para investir em ferramentas de estudo. “É um reconhecimento que dá um gás incrível para continuarmos nos dedicando”, disse ele no vídeo divulgado pela CAPES, conteúdo que também foi removido.

Publicação do MEC também foi excluída

O texto apagado do LinkedIn do Ministério da Educação comemorava o desempenho de Edcley e convidava novos participantes para a próxima edição do prêmio:

“É um reconhecimento que dá um gás incrível para continuarmos nos dedicando”, conta Edcley Teixeira, um dos ganhadores da edição mais recente do Prêmio CAPES Talento Universitário. […] Um bom desempenho pode transformar sua trajetória acadêmica e ainda garantir uma recompensa financeira.”

A exclusão ocorreu depois de a repercussão sobre o caso crescer nas redes.

Crédito: Reprodução

O que está em jogo

Os pré-testes realizados pelo MEC são confidenciais. Eles servem para definir a dificuldade e a pertinência pedagógica de itens que podem ou não ser usados futuramente no Enem. Caso alguém tenha memorizado e divulgado informações obtidas nessas aplicações, há possíveis implicações éticas e legais.

Por outro lado, enquanto isso, o caso segue provocando debate sobre segurança, transparência e credibilidade do principal exame educacional do país.

Maria Clara Landim

Jornalista formada pela PUC Minas, com experiência em fotojornalismo, assessoria de imprensa e jornalismo digital. Já atuou nas redes sociais e na redação da Rádio Itatiaia e como pesquisadora na Comunidade Quilombola de Pinhões. Atualmente, é repórter e redatora nos portais Sou BH e Aqui.