Investigação revela como violência e negligência na Dozier influenciaram trajetórias que terminaram em crimes graves
Michael Bell, executado na semana passada após condenação por múltiplos assassinatos na Flórida, faz parte de um grupo de 34 condenados à morte que têm um passado em comum.
Todos passaram pela Escola Arthur G. Dozier para Meninos, em Marianna, que funcionou de 1900 a 2011 sob a fachada de reformatório juvenil.
Uma investigação conduzida pelo Projeto Marshall, organização americana dedicada à cobertura do sistema de justiça criminal, mostrou que a instituição alimentava uma cultura de violência sistemática.
Entre 1900 e 1973, quase cem mortes foram registradas entre os internos. Escavações posteriores revelaram 55 sepulturas no terreno da escola, muitas de crianças que nunca tiveram seus óbitos formalmente documentados.
Michael foi enviado à Dozier aos 15 anos e permaneceu seis meses. Documentos judiciais apontam que ele sofreu espancamentos frequentes. De acordo com a defesa, traumas vividos naquele período tiveram impacto direto em sua vida adulta e nos crimes que cometeu.
Relatos de sobreviventes descrevem castigos físicos severos, agressões sexuais e confinamento solitário. Jesse Guardado, hoje com 62 anos e condenado por assassinato, lembra de ter presenciado abusos extremos.
Jerry White, enviado à escola em 1962 após a primeira detenção por roubo, relatou ter sido espancado por um ano. Ele acumulou nove condenações e morreu executado em 1995, após assaltar um supermercado e matar um cliente.
O governo da Flórida reconheceu o histórico de abusos apenas décadas depois. Em 2017, houve um pedido público de desculpas, e, no ano passado, a Assembleia Legislativa aprovou indenizações que somam US$ 20 milhões para sobreviventes de 1940 a 1975.
Apesar disso, presos condenados à morte, como Michael Bell e Loran Cole (executado em 2024), ficaram fora das medidas reparatórias.
Entre os 34 ex-internos de Dozier condenados à morte, dez permanecem no corredor, nove já foram executados e cinco morreram por outras causas. O restante teve as sentenças revisadas e cumpre prisão perpétua.