Casa de Sal, em Itamaracá (PE), usa 8 mil garrafas na estrutura e propõe novo modelo de moradia popular e ecológica
No litoral de Pernambuco, uma casa feita com 8 mil garrafas de vidro se tornou símbolo de resistência, sustentabilidade e reinvenção. A construção, batizada de Casa de Sal, foi idealizada e erguida por Edna Dantas, de 55 anos, e sua filha Maria Gabrielly Dantas, de 27. Começou a ser construída em 1º de maio de 2020 e, ao longo de dois anos, se transformou em uma moradia de sete cômodos feita majoritariamente com materiais reciclados, como vidro, madeira e móveis reaproveitados.
A casa nasceu de um desejo coletivo de mostrar que é possível pensar habitação de outra forma, aliando cuidado ambiental, autonomia financeira e protagonismo negro. As garrafas de vidro, utilizadas na vertical, se tornaram parte essencial do design e da iluminação natural do espaço.
A trajetória que levou à construção da Casa de Sal começou anos antes. Edna e Maria Gabrielly vêm de uma família que aprendeu desde cedo a valorizar os recursos naturais. A avó Severina, por exemplo, sempre ensinou a importância da separação do lixo e do reaproveitamento dos materiais.
A mudança para a Ilha de Itamaracá aconteceu em 2019, mais especificamente para a Praia do Sossego. Foi lá que perceberam a quantidade de resíduos descartados em áreas protegidas, como matas, mangues e rios.
As garrafas de vidro estavam entre os materiais mais abundantes nos descartes irregulares. A partir dessa observação, passaram a recolher esses resíduos e a transformá-los. Surgiram, primeiro, jardins ecológicos em locais antes tomados pelo lixo. Depois, veio a ideia da casa.
A construção foi feita com base em escuta, experimentação e coragem. Nem Edna nem Maria Gabrielly tinham experiência anterior com obras, mas decidiram aprender no processo. Hoje, a casa é considerada uma das primeiras no mundo a utilizar garrafas de vidro na vertical como parte estrutural. Além das 8 mil garrafas usadas na casa, outras 5 mil foram destinadas a quatro eco-lixeiras comunitárias criadas por elas. No total, mais de 8 toneladas de vidro foram recuperadas.
O projeto agora caminha para sua próxima fase: levar essa experiência para outros territórios. Edna e Maria Gabrielly acreditam que o modelo pode ser replicado, adaptado e fortalecido em comunidades que também buscam soluções sustentáveis para moradia.