Discrição em temas polêmicos e fortalecimento da espiritualidade devem pesar mais do que nacionalidade na sucessão
No Vaticano, uma pergunta começa a ecoar pelos corredores e praças: quem vai suceder o papa Francisco? A disputa, ainda sem data definida, já movimenta cardeais, estudiosos e fiéis atentos ao próximo conclave.
Entre os dez nomes mais cotados, o perfil que se desenha é de homens europeus, brancos, com cerca de 71 anos, nomeados pelo próprio Francisco e conhecidos por uma postura discreta diante dos temas que mais desafiam a Igreja Católica hoje.
Espiritualidade e discrição, segundo analistas, devem pesar mais do que qualquer posicionamento político. Candidatos mais ligados à fé e menos à gestão de poder tendem a ganhar força. A busca por maior transparência dentro da instituição também aparece como uma exigência quase unânime entre os cotados.
O cenário, no entanto, não será palco para uma guerra aberta entre alas conservadoras e progressistas. “Existe uma polarização: um grupo vai querer radicalizar e acelerar as propostas de Francisco, enquanto outro desejará um retrocesso. Mas esses extremos não têm força para decidir o resultado”, afirma Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo e ex-coordenador do departamento de fé e cultura da PUC-SP. “Ninguém vai querer inventar a roda nem promover mudanças radicais.”
O conclave que escolherá o próximo papa será mais diverso que o de 2013, com aumento da presença de cardeais da África, América Latina, Ásia e Oceania.
Para o historiador Gian Luca Potestà, professor da Universidade Católica de Sacro Cuore, em Milão, o passaporte terá pouco peso.
“A Europa está muito sub-representada em relação ao passado, com algumas ausências que saltam aos olhos (como Áustria e Irlanda). Mas o critério nacional não é decisivo para a orientação do voto.”