Os gêmeos e mais um homem, de 23 anos, estão presos suspeitos de tentar roubar mais de 174 armas de médio e longo calibre, entre elas fuzis, mais de 40 mil munições, além de 34 quilos de pólvora. Tudo foi recuperado, segundo a PM. Os três suspeitos pararam um caminhão, nessa segunda-feira (14), em uma estrada perto do município de Itaguara, na região Metropolitana de BH. No momento do roubo, o motorista do caminhão carregado com o armamento e o ajudante foram levados como reféns.
Em uma perseguição policial, os reféns foram liberados, a polícia conseguiu prender os suspeitos e recuperar a carga. A reportagem do portal Aqui entrevistou uma especialista em mentes criminosas para saber se existem fatores que podem contribuir para que gêmeos, como estes presos nesta terça-feira (15), estão ou não mais propensos a agir no mundo da criminalidade.
“A genética é extremamente importante para a formação da personalidade, porém, não é o que determina. Mesmo com uma genética herdada de pais com comportamentos antissociais (sendo eles até psicopatas), a história de vida é extremamente relevante”, afirma Ana Paula Silva, especialista em psicologia da saúde e pesquisadora em neuropsicologia forense.
De acordo com ela, é possível que um componente “ruim” seja canalizado de forma positiva ou anulado, principalmente, se gêmeos ou irmãos vivem em famílias protetoras, que investem na criação com amor, colocando os filhos na prática de esportes ou religiosidade, por exemplo. “Dessa forma, a criança vai canalizar algum componente genético negativo transformando-o em algo positivo. Agora, se já existe a predisposição genética e o ambiente é negativo (lar com violência e desestruturado), a situação se complica porque estão reunidos dois fatores de risco e, certamente, isto resultará em estragos significativos para o futuro desta criança (porque tudo começa na infância)”, completa.
Para a especialista, é preciso saber o que existe em comum em relação ao comportamento desses gêmeos presos, nesta terça-feira (15), talvez por terem sido criados no mesmo ambiente. “Só o fator genético não explica. É preciso saber a história de vida deles. Seria como se alguém dissesse que uma pessoa nasce má, mas ninguém nasce mau. As pessoas podem nascer com uma pré-disposição para violência, mas o ambiente é extremamente relevante para que essa condição se aflore ou não”, explica.
A especialista respondeu a uma série de questões que intrigam as pessoas sobre o comportamento de gêmeos envolvidos na criminalidade:
1- Dos 3 suspeitos presos, dois deles são irmãos gêmeos de 26 anos (ambos com passagem na polícia). Há alguma consideração a ser feita no entendimento da psicologia forense pelo fato de dois irmãos atuarem no crime?
Pode ser que sim. O primeiro ambiente socializador da criança é a família, se a família é permeada por fatores de risco a possibilidade da criança seguir comportamentos que estão fora da normalidade social é alta. Por exemplo, isso pode se desencadear, uso de drogas, além das formas negativas de como os pais educam seus filhos (negligência, violência física, abuso sexual, ausência de regras).
Em alguns casos, a criança pode sofrer a violência doméstica ou ser expectadora (ver a violência sendo cometida entre os familiares) e acabar replicando esse comportamento em outros ambientes, já na vida adulta. Isso considerando que as crianças aprendem a se posicionar na sociedade a partir de suas figuras de referência, mesmo que negativas. Mas, uma família com problemas não é só o que determina o comportamento de um jovem na vida do crime.
Podem ocorrer fatores que mudam a trajetória da pessoa tirando-a da criminalidade. Como não há elementos sobre a situação da família dos gêmeos, presos nesta terça-feira, não se pode dizer que o que se passou em ambiente familiar contribuiu ou não para a entrada deles no mundo do crime. O fato desses dois irmãos gêmeos, ambos com fichas criminais, estarem envolvidos em um crime leva a pensar: o que teria acontecido na família desses jovens para eles estarem nessa situação?
2- A ação dos suspeitos, em fechar a rodovia e parar o caminhão, retirar o motorista e ajudante transformando-os em reféns pode ser indício de que os suspeitos têm uma mente estratégica para o crime? Pela sua percepção, há indícios de que o crime foi planejado?
Tudo indica que os suspeitos têm sim uma mente estratégica para o crime e tudo mostra que o crime foi planejado. Para o sucesso da ação, os suspeitos precisariam saber onde seria o local mais estratégico da rodovia para abordar o caminhão e ter toda uma logística para a ação (parar o motorista, pegar os reféns, trocar os carros). Como eles sabiam isso? Eles se organizaram muito bem, sabiam, inclusive que o caminhão estava carregando uma carga valiosa e sem escolta. Esse não é um crime típico de impulso. Eles se organizaram muito para agir.
3- O fato dos reféns não terem sido machucados e terem sido liberados pelos suspeitos, ainda durante a perseguição policial, pode indicar algo?
Todo o crime é planejado para dar certo, porém existiu ali um fator que não era previsto: o aparecimento inesperado da polícia. Será que os suspeitos tiveram que repensar o plano? Acredito que, no momento de estresse, eles não estavam preparados e agiram por impulso e uma das formas foi liberar os reféns.
4- Quais as orientações possíveis para se passar a uma pessoa que, por acaso, se torna refém?
Tentar não resistir. Mas, se sabe que cada pessoa reage de um jeito em situações de defesa da vida. A violência faz parte da natureza humana e em um momento de perigo, em defesa da própria vida a pessoa vai querer lutar, reagir. Mas, a orientação é para tentar não fazer isso e evitar o confronto.
Os três suspeitos presos pararam um caminhão, nesta segunda-feira (14), em uma estrada perto do município de Itaguara, na região Metropolitana de BH. O veículo estava carregado com armamentos, munições e máquinas de operação de cartão de crédito e débito, segundo informações da PM. O motorista do caminhão e o ajudante foram levados como reféns.
Segundo a PM, já havia queixa de furto para o carro Honda Civic usado no crime. Essa informação, de acordo com a PM, foi fundamental para se fazer o cerco policial. Um sistema de monitoramento de imagens identificou a placa do veículo como furtado e, a partir daí, policiais foram atrás do carro. Em um determinado ponto, já na cidade de Carmo da Mata, os suspeitos furaram a blitz policial. Houve troca de tiros, mas ninguém saiu ferido. “Foram 30 quilômetros de perseguição, com esses indivíduos aí colocando em risco até outras pessoas. “A polícia Militar conseguiu fazer uma abordagem segura e eles sem alternativa tiveram que se render em Divinópolis. Essa foi uma das maiores apreensões de arma em Minas Gerais”, afirma tenente-coronel Flávio Santiago.
Os reféns foram liberados. Como o pneu do carro usado na fuga foi baleado e furado, os três tiveram que seguir caminhando e tentaram fugir pela mata perto do local. Os policiais perseguiram os homens com ajuda de uma aeronave, cães e com o trabalho de inteligência.
Na madrugada desta terça-feira (15), os três foram presos e confessaram que iriam vender a carga para receptadores de diversos municípios do interior de Minas. Ainda de acordo com a PM, eles moravam em Divinópolis e não tinham relação com facções criminosas. Os três têm passagem na polícia, sendo que um dos gêmeos, de 26 anos, responde por tentativa de homicídio.
Nesse fim de semana, uma grande quantidade de armas, também, foi furtada por bandidos em uma empresa de segurança em Belo Horizonte, mas a PM descartou qualquer relação com os dois crimes. Ainda, segundo a PM, não se sabe por qual motivo o caminhão que transportava uma carga considerada com valor aproximado de R$ 1 milhão não estava sendo escoltado.
Todo armamento era de uma empresa especializada em armamento que iria revender, principalmente, para lojas de armas. Os policiais contam que há possibilidade de uma outra pessoa ter ajudado, dando cobertura ao crime.
Os presos, o armamento apreendido e as notas fiscais foram levados para a Polícia Civil seguir com as investigações. A equipe do portal Aqui tentou contato com os dois reféns e com parentes deles, mas até o momento não deram retorno. Já a empresa RPA transporte e logística responsável pela carga de armamento não respondeu nosso questionamento sobre o motivo pelo qual o caminhão não tinha escolta.