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Polícia

Casal é preso por inventar fofocas para chantagear empresários

Criminosos usavam perfis falsos para difamar e extorquir moradores. Esquema durou dois anos e incluía até assinatura de fake news

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Policiais civis escoltam um homem e uma mulher algemados até a entrada de um prédio da Polícia Civil de São Paulo. Ao lado, viatura preta com o emblema da corporação. Fachada do prédio exibe a sigla DEIC (Departamento Estadual de Investigações Criminais).
Criminosos agiram por aproximadamente dois anos (Foto: reprodução/Polícia Civil)

A Polícia Civil de São Paulo desmontou um esquema de extorsão em Fernandópolis, cidade de 72 mil habitantes no interior do estado, onde um casal usava redes sociais para espalhar fofocas inventadas e chantagear empresários. Nadine de Fátima Siqueira Polizeli e João Tadeu da Silva Alves foram presos em 24 de abril, durante a quarta fase da Operação Cyberconnect.

Segundo os investigadores, o casal operava com perfis falsos no Instagram, como Bocas de Glamour, AcidQueen, AcidGossip e Abacashi, onde publicavam fofocas fabricadas. As “notícias” envolviam traições inventadas, relacionamentos falsos, muitas vezes com insinuações de homossexualidade, e outros boatos difamatórios. Após a exposição pública, procuravam as vítimas para extorquir dinheiro em troca do fim das postagens.

“Usavam VPN, criavam contas fora do país e acreditavam que jamais seriam identificados. Quando presos, passaram quase três horas negando tudo. Estavam certos de que sairiam impunes”, afirmou o delegado seccional de Fernandópolis, Everson Contelli.

O golpe atingia não apenas os alvos diretos, mas também pessoas próximas. Uma advogada que defendia um dos casais perseguidos também virou vítima. Em uma publicação caluniosa, os criminosos afirmaram que ela, seu namorado e a cliente moravam juntos e “faziam colação de velcro”. Após o ataque, ela relatou à polícia ter se tornado alvo de comentários e olhares constrangedores na cidade.

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Um dos casos mais extremos foi o de uma vítima que, tentando impedir a exposição de uma suposta relação extraconjugal inexistente, fez 24 transferências via PIX, totalizando quase R$ 10 mil. O casal ainda criou um serviço de assinatura chamado Close Friends, que vendia fofocas falsas por R$ 10 semanais, com direito a “conteúdos exclusivos” e acesso antecipado às difamações.

A operação policial que levou à prisão dos dois contou com o apoio de três departamentos da Polícia Civil: Deinter São José do Rio Preto, Decap e Demacro. Foram cumpridos 181 mandados de busca e apreensão e 75 de prisão em várias regiões do estado.

Os bens do casal foram bloqueados para indenizar as vítimas. As contas usadas nos crimes foram desativadas. Segundo o delegado Contelli, o caso reflete um fenômeno mais amplo e perigoso: o uso das redes sociais para comercializar mentiras, prática que ganhou força nas eleições de 2018.

“Há uma distorção deliberada da liberdade de expressão para praticar crimes. Essas fake news arruínam vidas e destroem famílias”, afirmou.

A investigação teve início após múltiplas denúncias e registros de boletins de ocorrência. O inquérito foi formalizado em agosto de 2024. A defesa dos acusados não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestação.