Saúde

Tratamento com fenol deixa mulher paraplégica

Uma investigação do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) aponta que o tratamento com fenol realizado em Bruna Conceição dos Santos, de 25 anos, pode ter causado a lesão que a deixou paraplégica. Dessa forma, a jovem, técnica de enfermagem, buscava aliviar dores pélvicas intensas provocadas por endometriose, mas acabou enfrentando uma mudança drástica em sua vida.

Em maio de 2024, Bruna procurou uma clínica particular no Distrito Federal em busca de alívio para as dores crônicas no quadril, baixo ventre e região lombar. O médico responsável, Lucas Franca, indicou um procedimento conhecido como fenolização — técnica que consiste na aplicação de fenol nos nervos com o objetivo de reduzir a dor.

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Antes disso, outro profissional havia recomendado o implante de um neuroestimulador sacral, mas o procedimento não foi aprovado pelo plano de saúde. Buscando uma alternativa mais acessível, Bruna optou pela intervenção com fenol. No entanto, logo após o procedimento, ela perdeu os movimentos das pernas.

Investigação Aponta Concentração Elevada de Fenol

A Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF) afirmou que a paciente não recebeu informações adequadas sobre os riscos do tratamento. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que o produto utilizado continha fenol glicerinado a 7%, mais que o dobro da concentração considerada segura, que é de até 3%.

A Associação Médica Brasileira (AMB) explicou que concentrações acima desse limite podem interromper a condução nervosa e causar necrose tecidual em até 10% dos casos. O relatório da Defensoria também destacou que lesões nervosas acidentais podem ocorrer em até 5% dos pacientes submetidos à técnica. Esses casos podem causar perda de movimentos ou de sensibilidade.

O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) identificou uma relação direta entre o procedimento médico e o efeito adverso sofrido por Bruna. O órgão ressaltou que o processo ainda está em andamento e garantiu o direito de defesa ao profissional envolvido. Em seu relatório parcial, o conselho reconheceu que, embora o objetivo fosse aliviar a dor, houve indícios de lesão nas raízes nervosas motoras.

O médico responsável admitiu que a complicação, embora rara, é uma possibilidade conhecida da técnica utilizada. Já a defesa de Lucas Franca sustenta que a neurólise química com fenol é um método reconhecido internacionalmente e que o procedimento seguiu todos os protocolos técnicos e éticos.

Clínica e médico negam erro

O médico afirmou que realizou o tratamento em ambiente hospitalar, seguindo rigorosos protocolos de segurança e controle radiológico. Ele garantiu que informou a paciente sobre os riscos e alternativas do procedimento e que ela assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido antes da aplicação.

A clínica L’Essence declarou que não possui responsabilidade direta pelo ocorrido. Segundo a instituição, os procedimentos de maior complexidade são executados exclusivamente em ambiente hospitalar, por equipes médicas independentes, sem vínculo direto com a clínica.

Anvisa proíbe o uso de fenol em procedimentos de saúde

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou, um mês após o caso, a Resolução nº 2.384/24, que proíbe o uso do fenol em procedimentos médicos e estéticos. A decisão reforça os riscos da substância, conhecida por sua alta toxicidade e pelo potencial de causar complicações graves à saúde.

Após perder os movimentos das pernas, Bruna iniciou sessões intensivas de fisioterapia para evitar a atrofia muscular. Além da paraplegia, ela enfrenta dores crônicas e impactos emocionais profundos. Mesmo diante das dificuldades, Bruna retomou o canto na igreja, encontrando na música uma forma de recuperar a autoestima e fortalecer sua saúde emocional.

O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) analisa o caso, enquanto a Defensoria Pública move uma ação judicial contra o médico e a clínica responsáveis. Com o apoio jurídico, Bruna busca na Justiça o reconhecimento do erro médico e a reparação pelos danos físicos e psicológicos sofridos.

Yasmin Oliveira

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