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Eficiência ou tradição, um dilema no futebol

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Os maiores clubes do Brasil construíram, através das décadas, identidades próprias. Há os que prezam pela qualidade técnica, como o Cruzeiro e o Palmeiras, por esse motivo chamado de Academia; outros pela raça e impetuosidade, como o Atlético e o Grêmio; os que tradicionalmente montam grandes times com jogadores formados nas próprias categorias de base, como Flamengo e Santos.

Mas como quase tudo na vida, isso é relativo. O rubro-negro carioca obteve muito sucesso desde 2019 contratando jogadores já “prontos”, alguns deles formados em rivais com o Fluminense. O Verdão já não priorizava o futebol de toque de bola desde muito antes da chegada do competente português Abel Ferreira. O alvinegro mineiro se tornou mais reativo com a contratação do experiente e vitorioso Luiz Felipe Scolari, bem menos ofensivo que Cuca, inventor do “Galo Doido”, por exemplo. E a Raposa busca uma nova forma de atuar depois de amargar os piores anos de sua história na Série B do Brasileiro.

O ideal é conseguir conciliar a forma de jogar compatível com as tradições de cada agremiação com a conquista de títulos importantes. Mas isso não é fácil.

Se o time for eficiente e “bater” campeão, como costumam dizer os boleiros, a torcida costuma relevar a forma de jogar, mesmo que ela seja diametralmente oposta ao que ele se acostumou a ver. Uma retranca pode ser perdoada pelos adeptos do futebol ofensivo desde que resulte em taças.

Porém, se o resultado não vem, a cobrança é dobrada. Uma pelo fracasso em si. Outra, pelo “sacrilégio” de ter abandonado o que todos consideram parte da cultura clubística.

Vejo muitos dirigentes pouco se lixando para as tradições dos clubes. Isso tende a se acentuar com a chegada de investidores para as Sociedades Anônimas do Futebol (SAF), cuja prioridade é o lucro.

Os jogadores contratados costumam ser aqueles que podem dar mais retorno financeiro, ainda que não se encaixem na forma de jogar à qual o torcedor sempre prezou. Até mesmo a chegada de treinadores pode indicar em direção contrária ao que o clube demorou décadas para construir.

Aí, vai de cada torcida aceitar ou não as mudanças. Repito, se os troféus vierem, as reclamações tendem a diminuir ou até inexistir. Afinal, as pessoas gostam mais de seus clubes do que do futebol. E quem sou eu para ir contra.

ESTADUAIS NOVAMENTE

Os campeonatos estaduais voltaram e as discussões sobre a relevância deles também. De um lado está a tradição, que é importante, mas costuma ser deixada de lado se algo mais atrativo for oferecido em troca. Do outro, a nova realidade do futebol, cada vez mais globalizado.

Os clubes grandes encaram as disputas que abrem a temporada como parte da pré-temporada, sendo que muitos nem colocam seus principais atletas em campo em algumas rodadas. Os gramados ruins de muitos estádios e as viagens desgastantes são motivos mais que suficientes para isso. Por outro lado, há o contrato com emissoras de TV e de streaming que querem ter o melhor para oferecer ao público.

Neste ano, há uma situação peculiar. Flamengo e Vasco optaram por jogar amistosos fora do Brasil como preparação para a temporada. Como têm compromissos pelo Campeonato Carioca, tiveram de montar dois times cada um. No caso dos vascaínos, os torcedores ficaram sem saber se viam o amistoso contra o Deportivo Maldonado-URU, disputado em Punta del Este, ou se acompanhavam o duelo que terminou empatado com o Sampaio Corrêa, pela segunda rodada do Estadual, disputados no mesmo dia e horário. Já os rubro-negros tiveram 15 minutos de “descanso” entre o amistoso com o Philadelphia Union, nos EUA, e o empate com o Nova Iguaçu, pelo Carioca, em João Pessoa (PB).

Aliás, jogar longe do Rio virou lugar comum para o Fla. A estreia, com o time principal, foi em Manaus, quase 3 mil quilômetros distante do Maracanã.