Agressividade, possessividade, ciúme excessivo. Todos esses sentimentos deveriam acender um alerta: posso estar diante de um relacionamento abusivo. Contudo, por diversas vezes, os sinais de controle são confundidos como formas de demonstrar amor, e as mulheres se calam.
“Culturalmente as mulheres são ensinadas a sofrer caladas. A aguentar esse sofrimento”, destaca a psicóloga Junia Drumond. Em muitos casos, o desfecho são crimes de feminicídio, como o ocorrido nesta semana em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Inconformado com o término do relacionamento, um homem matou ex-companheira, a irmã e a mãe dela. Conforme parentes, embora fosse ameaçada, a vítima não havia denunciado às autoridades. O caso reforça a necessidade de falar sobre violência doméstica.
“O homem, praticamente, foi educado nessa condição de poder”, destaca a psicóloga. Com isso, as mulheres se veem no dever de aceitar determinados comportamentos. “É comum o marido ser ciumento e ficar mais bravo em alguns dias”, exemplifica Junia.
A solução para encerrar o ciclo de “naturalização da violência” contra mulher passa pela educação das futuras gerações, opina a delegada Renata Ribeiro Fagundes, titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher da Polícia Civil de Minas Gerais.
“A gente sabe que os estereótipos de gênero existem há muito tempo na sociedade. Temos que ensinar desde cedo as crianças os papéis dos homens e as mulheres”, destacou.
Estão previstos na Lei Maria da Penha — criada em 2006 para evitar, enfrentar e punir agressões contra mulheres — cinco tipos de violência doméstica: física, psicológica, moral, patrimonial e sexual.
Na avaliação da psicóloga Junia Drumond esse é um dos crimes mais difíceis de ser identificado pelas mulheres. “Culturalmente, a mulher é ensinada a ter um compromisso de servir o homem na cama”, reforça.
Mulheres vítimas de violência doméstica podem acionar as autoridades de diversas formas. Uma delas é procurar a Polícia Civil por meio do telefone 100 ou 180. Em caso de emergências, a Polícia Militar é opção no 190.
Conforme a delegada Renata Fagundes, várias cidades mineiras possuem delegacia especializada em atendimento à mulher. Contudo, ainda que o município não possua, qualquer unidade de delegacia pode ser acionada.
A partir da denúncia, um dos caminhos é a emissão da medida protetiva. “É um requerimento que informa uma situação de violência e pede medidas para resguardar a integridade física e psicológica da vítima”, afirma. Entre as previsões, está a proibição do autor das agressões de se aproximar da mulher.
A medida protetiva também pode ser solicitada pela internet, na delegacia virtual da Polícia Civil.
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