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Homem com esquizofrenia morre após ser enforcado em igreja

Giusepe Bastos de Sousa foi encontrado inconsciente no estacionamento do templo; família acusa membros da Igreja Universal de sufocamento até a morte

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Antes do diagnóstico, segundo a irmã, Giusepe gostava de malhar, ler, desenhar e ver filmes
Antes do diagnóstico, segundo a irmã, Giusepe gostava de malhar, ler, desenhar e ver filmes

A Polícia Civil do Rio de Janeiro (PCERJ) investiga as circunstâncias da morte de Giusepe Bastos de Sousa, de 31 anos, diagnosticado com esquizofrenia paranoide. Ele faleceu na última segunda-feira (15), um dia depois de ter sido imobilizado dentro de uma unidade da Igreja Universal do Reino de Deus, na Zona Norte da capital fluminense.

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De acordo com a família ao jornal O Globo, Giusepe sofreu um surto na tarde de domingo (14), saiu de casa agitado e acabou entrando no templo que frequentava há aproximadamente três anos, no bairro Marechal Hermes. Após procurá-lo, a mãe dele o encontrou no chão, sendo contido por um pastor. A irmã Desire Bastos, acionada pela mãe, chegou ao local e afirma ter visto o irmão já inconsciente.

Desire, que é operadora de telemarketing, contou que mesmo com Giusepe desacordado, sem sinais de vida, o pastor continuava imobilizando o pescoço dele. Enquanto isso, os membros da igreja impediam que ela se aproximasse do irmão, alegando que ele estava somente dormindo e que a situação seria resolvida.

Quando o Samu chegou, os profissionais teriam pedido ao pastor para sair de cima de Giusepe e tentado reanimá-lo. Conseguiram sentir a pulsação na terceira tentativa e o levaram, em estado grave, para a UPA de Marechal Hermes.

Ainda segundo a irmã, o episódio aconteceu no estacionamento da igreja enquanto o culto seguia normalmente.

Versões divergentes

A família acusa membros da Igreja Universal de violência excessiva. Desire comenta que havia homens fortes no local, capazes de conter Giusepe até a chegada da polícia, mas que eles agiram de maneira covarde, sufocando seu irmão.

Ela frisa ao jornal ainda que, por ser esquizofrênico, Giusepe não agiu de forma racional, estava doente.

Frequentadores, no entanto, relataram que o homem teria quebrado um portão e tentado agredir uma pessoa antes de ser imobilizado.

Laudo e investigação

O atestado de óbito aponta sinais de asfixia por constrição da região cervical, em virtude da compressão do pescoço, além de broncoaspiração, que acontece quando substâncias como saliva entram acidentalmente no pulmão. Também foram registrados hematomas e escoriações no corpo.

Antes da morte, o caso foi registrado como lesão corporal. Agora, a polícia aguarda o laudo final do IML para atualizar a tipificação do crime. O delegado responsável, Flávio Loureiro, assegurou que testemunhas já foram ouvidas e que não há imagens de câmeras de segurança disponíveis.

Giusepe foi sepultado na quarta-feira (17). A irmã o descreve como “o melhor dos quatro filhos”: um homem inteligente, carinhoso e religioso, que gostava de ir à academia, ler, desenhar e ver filmes, e que não bebia ou usava drogas. Ela lamenta a mudança de personalidade que aconteceu com o diagnóstico da esquizofrenia.

Declaração da Igreja Universal

A Igreja Universal informou ao O Globo que Giusepe surgiu “em estado de agitação” e que, durante o episódio, se machucou ao quebrar uma porta de vidro e agrediu um frequentador do templo. Os voluntários teriam atuado apenas para proteger os presentes até a chegada do Samu e da polícia.

A Igreja destacou que registrou boletim de ocorrência e está colaborando com as investigações.